sábado, 24 de outubro de 2015

Bliss

Oi,

Espero que todos estejam bem.

Ontem fiz algo inédito para mim nestes últimos meses. Sai com alguns amigos (sim, ainda sobraram alguns felizmente) e fomos em um barzinho. Não havia saído de casa para fazer algo assim desde que entrei em liberdade provisória. Simplesmente não me sentia a vontade de sair e de repente dar de cara com alguém que conhecia e que me odeia agora. Não sabia como seria a reação desta pessoa. Poderia passar simplesmente de fazer cara feia a fazer algum escândalo. Logo, mais pelo não que pelo sim, simplesmente não saia de casa.

Não tinha segurança nenhuma, minha auto estima estava bem baixa, e caso acontecesse algo assim não sabia como eu reagiria a tudo. Ás vezes tinha a impressão de que eu ficaria puto caso a pessoa falasse algo e temia que eu acabasse envolvido em alguma briga. Ás vezes tinha a impressão de que se a pessoa falasse algo eu simplesmente começaria a chorar histericamente e desabaria.

Entretanto, de uma maneira geral, todas as essas questões de auto estima tem ficado melhores (conforme eu já havia comentado anteriormente) e me sinto melhor em relação a mim mesmo. Claro, ainda percebo que minha auto confiança e auto estima estão baixos mas pelo menos consigo reconhecer isto agora. Este simples fato, de conseguir me analisar e reconhecer isto, aliado com o fato de que tenho tentando "me resolver" (no sentido, conversar mais comigo mesmo, refletir mais sobre mim mesmo) tem me ajudado e navegar melhor por estas incertezas. Ainda não é perfeito esse gerenciamento mas é muito melhor do que ele era antigamente.

Então me senti confiante de ir no barzinho com essas minhas amigas para espairecer a cabeça um pouco. Com a audiência chegando agora no dia 27 eu senti que eu precisava fazer algo para aliviar a tensão um pouco. Logo, tomar umas cervejas e bater um pouco de papo sobre qualquer besteira me pareceu uma ótima solução. O encontro foi bem legal, cheguei lá em torno das 18h30m e fiquei até 23h30m. Nunca fui muito de sair para ir em algum bar, sempre preferi fazer algo em casa mesmo. Logo, nunca fui de ficar muito tempo no bar mas só essas poucas horas que eu fiquei já me levantaram o ânimo de uma maneira impressionante.  Fiquei muito feliz de poder ter feito algo normal.

Entretanto, percebi após pensar um pouco que um dos maiores motivadores para ter ido ao bar foi a questão da audiência do dia 27. Apesar de ter uma mísera chance de 1 ou 2% de ir preso novamente nesta audiência é somente nisso que eu consigo pensar ás vezes. Tenho conseguido gerenciar melhor essa ansiedade e expectativas descomunais em relação a um risco tão pequeno mas nem sempre consigo fazer um controle adequado. Logo, essa ida ao bar me pareceu uma certa despedida aos meus amigos. Uma última chance de ver eles antes de ser preso por vários anos.

Percebi isso porque eu havia tentando marcar um churrasco com um outro grupo de amigos para este sábado que infelizmente não rolou. Quando eles me avisaram, via e-mail, que não ia rolar, porque tinham outros compromissos, eu respondi dizendo que entendia e que poderíamos marcar para o próximo final de semana; internamente, entretanto, eu fiquei bem mal e triste e principalmente angustiado. Esses meus amigos vão depor a meu favor, como testemunhas de carácter, na terça feira agora e somente vou vê-los nesse dia. Senti que essa minha angústia era devido a achar que a última vez que eu veria eles seria na audiência a medida que eu fosse algemado e colocado numa viatura para ser despachado para algum presídio. Bizarro, eu sei, mas era como eu me sentia.

Uma surpresa inesperada nessa ida ao bar foi que uma pessoa que eu conhecia anteriormente, mas não chamava de amigo e sim de colega de trabalho, apareceu junto. Esse cara havia me mandado umas mensagens após eu ter sido solto e elas fizeram um bem enorme para mim. Ele me falou que não queria saber o que havia acontecido e nem se era verdade ou não. Ele estava interessado em saber como eu estava, se eu precisava de ajuda ou de alguém para conversar que era para contar com ele. Que ele estava com a cabeça aberta, não queria fazer julgamento de ninguém mas que gostava muito de mim e por isso achava que eu merecia pelo menos uma chance. Nunca iria esperar isso de alguém como ele. Nós sempre se demos bem no trabalho, inclusive até em alguns churrasco da empresa e etc, mas como eu disse acho que nunca poderia ter chamado ele de amigo. Entretanto, aqui estava ele, alguém que mal me conhecia me dando um apoio fundamental para que eu soubesse que não estava sozinho, que existiam pessoas que queriam me ajudar.

Teve pessoas que eu considerava mais que amigos, que eu considerava como se fossem irmãos, que me abandonaram. Algumas destas pessoas que inclusive mandaram avisar, via amigos em comum que eu ainda tenho, que eu estava morto para eles. Destas pessoas eu esperava apoio e não tive. Acho que isto, mais até dos problemas que estou tendo com meu irmão de verdade,  foi um dos principais fatores que me quebrou ao meio. Minha auto confiança e minha auto estima, após ser rejeitado por estas pessoas, que eu considerava tanto, simplesmente estilhaçaram. Pensava que eu deveria realmente ser um monstro, um merda, para que até pessoas que eu conhecia a mais de 10 anos, pessoas que eu chamava de irmão e não de maneira leviana, estarem me abandonado. No entanto, aqui estava um exemplo de um cara que eu nem considerava meu amigo me dando uma super força, um apoio que foi fundamental. São nestas surpresas agradáveis que eu tento me focar e não nas desagradáveis. Pena que nem sempre isso é fácil de fazer.

Mais felizmente esse cara foi ontem no bar e pudemos trocar algumas palavras rápidas. Percebi que ele, assim como já havia dito anteriormente, não queria saber dos detalhes do que havia acontecido e nem nada do tipo. Percebi que ele estava realmente interessado em saber como eu tava, se estava procurando ajuda, se estava tomando remédios, se eu estava bem de verdade. Falou novamente que qualquer coisa era para eu dar um toque nele, no que ele pudesse ajudar ele tentaria. Se fosse bater um papo, tomar uma cerveja ou o que fosse. Cara, realmente existem pessoas boas no mundo. Estes meus poucos amigos que restaram mais essas surpresas que eu tenho de algumas pessoas me deixam muito feliz. Não consigo expressar em palavras como é poder escutar isso de uma pessoa. Saber que a pessoa genuinamente está interessado no teu bem estar, que ela não concorda com o que você fez mas entende que todos somos passíveis de erros e que temos que tentar sempre lidar com as consequências dos erros da melhor maneira possível. Novamente, cara, isso é fantástico!


PS:


O título deste post ia ser Incerteza. Incerteza porque quando eu comecei a escrever ia ser sobre que apesar de ter saído na sexta-feira e ter ficado melhor de ânimo hoje eu estava novamente angustiado e incerto sobre o meu futuro. Ia falar novamente que eu estava pirando e me sentindo triste e ansioso e uma série de outras coisas. Novamente, ao começar a escrever o post e escolhendo falar da parte boa (que foi ter saído) e me foquei mais nessa parte do que na parte ruim. Ter relembrado sobre ontem à noite e sobre essa pessoa que eu encontrei me fizeram, temporariamente, esquecer das coisas ruins que eu estava sentindo.

Após escrever o post inteiro acima, parei e reli ele algumas vezes. Tenho mania de fazer isso com todos os posts porque tento imaginar como uma pessoa estranha deve se sentir e pensar ao ler tudo isso que eu estou escrevendo. A medida que eu fui lendo e relendo eu percebi que eu estava muito feliz em poder contar tudo isso que eu contei. Muito feliz por ter passado por essa experiência. Sim, ainda estava me sentindo triste, angustiado, inseguro, incerto sobre o futuro. Entretanto, a felicidade e alegria que eu sinto é muito maior. Então, ao invés de focar na parte ruim eu vou focar na parte boa do que eu estou sentindo.

Entretanto, isso não significa que eu vou fingir que a parte ruim não está lá. Não vou enterrar esses meus sentimentos que nem eu sempre fiz ao longo da minha vida. Tenho que reconhecer que eles estão aqui dentro de mim e que eu preciso lidar com eles. Por isso que eu escrevi esse PS, meio longo, para dizer que além da alegria que eu estou sentindo também tem sentimentos ruins. Eles estão aqui e estão sendo gerenciados por mim. A existência deles dentro da minha cabeça me obrigam a honrá-los tanto quanto os sentimentos bons.

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