quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Fim de ano

Oi,

Não tenho postado muito por aqui porque estou viajando na casa da minha família.

Espero que todos tenham tido um bom natal e que vocês tenham um ótimo ano novo.

O próximo ano talvez não seja bom já que provavelmente serei preso novamente mas não adianta ficar deprimido pelo futuro.

Minha resolução de ano novo é escrever um pequeno relato sobre como eu penso e sobre como minha mente funciona. Estou escrevendo no Wattpad, que me foi apresentado por um amigo.

Segue o link

"Triumvirate - A story about a fractured mind" by LucasPazzoFolle on Wattpad http://w.tt/1NX3s4P.

domingo, 20 de dezembro de 2015

Recesso (possivelmente)

Oi pessoal,

Desculpe ter abandonado um pouco este blog. Tenho mantido uma presença mais constante no lugar que eu mencionei anteriormente e isso tem consumido bastante tempo.

Entretanto gostaria de passar por aqui para deixar uma boa notícia! Amanhã irei viajar para casa de alguns parentes e irei passar o Natal e o Ano Novo por lá! Como estou sendo monitorado eletronicamente eu precisei pedir autorização para o Juiz do meu caso para realizar esta viagem. Felizmente o Ministério Público não se opôs e o Juiz concedeu esse benefício.

Estou de malas prontas e pronto para viajar amanhã! Devo voltar somente no ano que vem e dai resumiremos a vida por aqui espero eu. Outra coisa important, já foi apresentada a acusação final e a defesa final para o meu caso logo estou a espera da sentença do juiz. Como já estamos de recesso judicial isto deve ocorrer somente no ano que vem.

De qualquer maneira, desejo um Feliz Natal e um Feliz Ano Novo a todos os leitores dessa birosca!

Se encontramos no ano que vem!

Abraços,

Lucas

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Aniversário

Oi,

Conforme eu havia mencionado no post anterior eu estive um pouco deprimido neste último dia 7 de Dezembro. Nesta data foi o primeiro "aniversário" do dia em que eu cometi o meu crime. A síndrome do "aniversário" é algo que tem sido reconhecido, sob diferentes formas, por médicos e psicólogos no mundo todo. Todos passamos por eventos traumáticos em nossas vidas e temos a tendência de ligar o dia em que este evento ocorreu com nossos sentimentos de maneira que quando a mesma data acontece no próximo ano sentimos de volta as mesmas coisas.

Isto acontece, por exemplo, com o aniversário de morte de uma determinada pessoa que faleceu. Com o dia em que você recebeu uma notícia terrível. Por exemplo, provavelmente acontecerá com o pessoal de Mariana, e das cidades em volta, que irão se lembrar dessa tragédia para o resto das suas vidas, mas provavelmente se sentirão piores nos aniversários da tragédia. Nós, como seres humanos, temos a tendência de darmos mais atenção para eventos ruins do que para eventos bons. Temos a tendência de lembrarmos das coisas ruins e esquecer das coisas boas. Claro, todos nos lembramos do dia em que algo ruim aconteceu a anos atrás, mas não nos lembramos das inúmeras coisas boas que nos acontecem todo dia. A pessoa que te dá uma brecha no trânsito para você mudar de pista, alguém que para o carro para você cruzar a rua, alguém que abre a porta para você quando suas mãos estão ocupadas e etc. Estas pequenas coisas boas se juntam, no final do dia, e te dão a sensação de que o dia foi bom. Entretanto, uma coisa ruim é o suficiente para estragar o dia de qualquer um, se deixarmos.

De qualquer maneira, a razão principal de ter ficado ruim no dia 7 foi porque eu não conseguia parar de pensar no que eu havia feito e na vítima. A medida em que eu tenho feito terapia minha mente tem se voltado mais e mais para mim mesmo e tentado fazer sentido de quem eu sou. Recentemente eu consegui aceitar quem eu era, que eu tinha várias doenças que em conjunto me fizeram fazer o que eu fiz; Não uso estas doenças como desculpa porque sei que, apesar de tudo isso, eu deveria ter me segurado e não ter feito o que eu fiz. Conforme eu relatei no post anterior encontrei um lugar online com outras pessoas com a mesma doença que a minha. Conversando com eles percebi como, de suas próprias maneiras, eles encontraram jeitos para impedir que eles cedessem as suas tentações e impulsos. Enquanto que eu não consegui fazer isso. Então eu sei que existem pessoas com o mesmo problema que conseguem se controlar, logo o que eu fiz não é desculpável por causa disso.

A terapia tem me ajudado principalmente neste aspecto. Eu tenho aprendido mais sobre mim mesmo e como eu funciono. Tenho tido que enfrentar verdades incômodas sobre mim neste processo. Entretanto também tenho tido a chance de aprender como eu sou e planejar como eu quero ser. Essa característica, de olhar para o futuro e almejar algo melhor, tem sido fundamental na terapia. Com todo esse trabalho psicológico que eu tenho feito tem ficado cada vez mais claro a enormidade do que eu fiz. Da gravidade do crime que eu cometi e pelo o qual eu tenho que pagar. E tudo isto retornou, com a força de uma avalanche, na minha cabeça no dia 7.

Essa avalanche de sentimentos e pensamentos não era boa. Todos os meus pensamentos, direcionados a mim mesmo, eram agressivos. Eu pensava que eu era um monstro, uma pessoa horrível. Talvez a pior pessoa a jamais ter pisado na superfície do planeta Terra. De que não deveria ser permitido que eu respirasse por mais um segundo. Que a única coisa lógica a ser feito era me matar. Que apesar de que isto fosse trazer um sofrimento a curto prazo para a minha família e amigos seria melhor a longo prazo.  Pensava como era possível que eu tivesse feito algo com a vitima mesmo vendo ela chorando. Mesmo quando eu percebi o exato momento em que ela entendeu o que iria acontecer com ela e soltou um lamento tão terrível e longo que me corta o coração só de lembrar.

Pouco a pouco, a medida que o tempo foi passando, eu fui me acalmando. Conversei com a minha mãe sobre como eu estava me sentindo mal e ela passou mais de 1 hora sentada ao meu lado na cama enquanto eu estava deitado e chorando. Minha mãe é partidária da máxima de "Se você não pensar sobre algo este algo não pode te afetar (ou talvez nem existir)". Não é a toa que eu aprendi a guardar os meus sentimentos ao invés de lidar com eles. Ela começou a falar comigo sobre uma série de assuntos banais (atualizações de Facebook de Fulano, A Fazenda, Masterchef) e é impressionante a habilidade que ela tem de fazer estes assuntos anêmicos virarem conversas longas. Quando eu percebi que ela estava animada e que iria continuar por um bom tempo eu comecei a dar risada. Uma risada que chegou a virar gargalhada e que então me fez doer a barriga. Ela me olhou como se eu estivesse louco e começou a dar risada também. Mães tem um jeito especial de fazer os filhos se sentirem bem.

Conforme o dia foi andando consegui começar a racionalizar os meus sentimentos. Não ignorei eles, aceitei que estivesse me sentindo mal mas comecei a gerenciar eles. Me permiti me sentir mal mas também comecei a me questionar sobre o que eu faria com o que eu estava sentindo. Novamente comecei a pensar na vítima e como eu admirava a força dela. De ter ido a polícia. Como ela estava lidando com as coisas. Novamente me senti um covarde em comparação mas firmei meu compromisso de me igualar a ela um dia. Nem que fosse à metade da coragem dela mas eu iria. Eu iria enfrentar a cadeia, fazer terapia e garantir que aquilo não voltasse a acontecer, tomar os remédios que eu tivesse que tomar. Também firmei minha resolução de melhorar quem eu sou. Me matar é a opção fácil, sem trabalho. Apesar disso, deixo claro que isto é algo que eu disse para mim mesmo, para me forçar a acreditar que existe um futuro e que eu devo trabalhar em direção a ele, não importa quão difícil isto seja.

 Me falaram à um tempo atrás que suicídio é um ato egoísta. Respondi que sim, é. O suicida acredita firmemente que sua situação é irreversível e incorrigível logo se matar é a única opção. Um suicida não pensa nos outros, somente em si porque sua angústia leve a pessoa a pensar somente em si. Esta é a razão pela qual depressão é tão difícil de combater. Ela exige que a pessoa pare de se focar um pouco em si mesmo, e na situação difícil que está vivendo, e comece a olhar ao seu redor e para o seu futuro. Isto é muito difícil quando você está em uma situação difícil. Lembram do começo do post? Que prestamos mais atenção no ruim que no bom? Então, é bem por aí. Por isso que é muito importante que quando uma pessoa se demonstra suicida (tendo pensamentos suicidas) que nunca se diga que isto é covardia ou besteira. Vejam, a pessoa tem a crença firme que provavelmente não vale muita coisa e que sua situação é difícil e sem resolução. Dizer que isto é um ato covarde ou besteira só reafirma a opinião ruim dessa pessoa sobre si mesma. Ao fazer isto, mesmo tendo-se a melhor intenção do mundo, é empurrar esta pessoa cada vez mais para o caminho de se matar.

De qualquer maneira, eu consegui me recuperar da depressão o suficiente para conseguir me segurar emocionalmente. Não é fácil isto. Também decidi usar essa memória, do sofrimento da minha vítima, como um lembrete para a próxima vez que eu me sentir tentado a fazer algo errado. Esta tentação não ocorreu novamente, pelo menos não no mesmo grau de intensidade. Nas vezes em que ocorreu eu consegui, utilizando as ferramentas que eu aprendi na terapia, me controlar. Inclusive, desde que eu me aceitei eu tenho percebido que isto se tornou mais fácil. Admitir para mim mesmo que eu tenho um problema e me aceitar me ajudaram a entender que o que eu sinto. Apesar de o que eu sentir não ser errado, desde que sejam somente fantasias, o que é errado é quando isto se transforma em ação. Logo, pensamentos ruins na cabeça todos temos. Xingar e pensar que você quer matar o babaca que te fechou no trânsito é uma coisa. Perseguir o carro do babaca e realmente matar ele é crime. A mesma analogia se aplica a minha doença. Sentir um atração é uma coisa. Tomar uma ação para satisfazer a atração não é. Esta lição foi difícil de aprender mas foi aprendida. Pena que necessitou eu ter machucado alguém, ter acabado com a minha e ir preso para aprendê-la.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Sumido

Oi!

Sei que ando sumido daqui...me desculpem por isso. Não queria ter negligenciado o blog neste tempo em que estive ausente mas é que houve algo que aconteceu comigo que não consegui mais ter foco em mais nada.

Eu encontrei um lugar online onde pessoas que tem o mesmo problema do que eu se encontram para discutir a sua doença, as maneiras como eles fazem para evitar seus impulsos e apoiar uns aos outros! Este lugar é fantástico, mágico na verdade. Nunca achei que algo assim existisse. Não consigo expressar para vocês a felicidade que é ter encontrado isto. Já criei uma conta lá e me apresentei e contei tudo o que aconteceu comigo (com mais detalhes do que aqui afinal lá é um lugar específico enquanto que aqui não). Fora que lá também não é um lugar público então me sinto mais a vontade para conversar com detalhes sobre o que aconteceu.

Tem sido muito legal. Claro, ao mesmo tempo é um pouco humilhante estar na presença de tantas outras pessoas que enfrentam o mesmo problema mas que não agiram sob seus impulsos. Este fato me deixa um pouco triste porque me faz ver como eu poderia ter gerenciado as coisas melhores na minha vida. Mencionei como eu guardava meus sentimentos dentro do mim até o momento em que isso explodiu. Eles já me comentaram como isto, além da minha desordem de ansiedade, de impulsividade e bipolaridade, facilitaram que eu cometesse um crime. Mas eles ofereceram muito suporte e compaixão! Muitos desejos de que eu seja uma pessoa melhor e estão me apoiando muito! Em contrapartida já consegui falar com várias pessoas que estão depressivas por terem o mesmo problema que eu e que ainda estão "escondidas" do mundo. Falar com elas, dizer que eu entendo e poder oferecer uma palavra de apoio é gratificante.

Então, por isso tenho dado uma esquecida daqui, mas não irei parar de postar. Aqui é um lugar quase que praticamente meu. Um diário mesmo onde posso simplesmente desabafar o que eu sinto fora da visão de outras pessoas. Claro, existem vocês leitores, mas como vocês são mudos (ou manetas, afinal nunca escrevem nada nos comentários) é um exercício quase que solitário. As coisas que são escritas aqui, de modo genérico, são escritas com um pouco mais de refinamento de detalhes lá. Com o plus de que lá existem interações com outras pessoas que dão suas opiniões sobre o que eu penso e sinto.

Outro tópico, e este mais triste.... Ontem, dia 7, fez um ano desde que eu cometi o meu crime. Fiquei muito ruim ontem, muito deprimido. Foi com o suporte do pessoal que eu encontrei online e dos meus pais que eu pude atravessar esse período. Não quero me alongar muito aqui então outra hora falo mais sobre isso se me sentir a vontade. 

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Otimismo

Oi,

Faz alguns dias desde que eu postei aqui. As coisas tem estado meio corridas por aqui e tenho tido pouco tempo e muita preguiça para postar no blog.

Queria no entanto compartilhar algo que foi muito legal para mim. Ante ontem eu recebi um email de dois amigos meus que moram na Malásia. Eu havia viajado a trabalho para lá fazem mais de 5 anos e estas duas pessoas se tornaram minhas amigas. Eles trabalhavam para o cliente que eu atendia e por causa disso, e contatos posteriores de suporte, acabamos nos tornando amigos íntimos. Sempre mantínhamos contato via email, Skype ou Facebook.

Entretanto a alguns meses eu deletei minha conta no Facebook para evitar transtornos pessoais. Como não sabia o que poderia acontecer na audiência não queria manter minha conta do Facebook enquanto estivesse na cadeia. Além disso tinham algumas pessoas que me enviavam mensagens lá querendo saber sobre minha vida mas não com um intuito bom. Pareciam estar mais interessadas em fofoca que outra coisa. Também haviam algumas mensagens não tão educadas que eu recebia. Logo, me parecia a melhor opção simplesmente acabar com a conta e posso dizer que acho que tomei a decisão correta.

Estes meus amigos, é claro, perceberam que eu deletei minha conta do Facebook e me mandaram um email perguntando se estava tudo ok. Eu fiquei o dia inteiro dividido sobre se deveria responder ou não o email deles e se fosse responder o que eu diria. Contar a natureza da minha doença e do crime que eu cometi é muito complicado mesmo falando cara a cara, fazer isso por email então me parece muito pior. Entretanto, decidi que eu deveria responde e que eu deveria dizer abertamente o que aconteceu.

O email em si é bem longo, parecido com o tamanho dos posts desse blog, e tem um resumo de tudo que aconteceu comigo nesse ano. Escrevi esse email e no final disse que eu sentia muito de ter que contar isso via email e que caso eles achassem que não queria ter mais nada comigo que isso era ok. Que eu entendia se essa fosse a opinião deles.

Minha surpresa, que nem deveria ser surpresa considerando como eles são, é que eles me amavam e me apoiavam. Que eles entendiam como deve ter sido difícil para mim viver guardando esse segredo por tanto tempo. Que eles sabiam que existe um grande preconceito envolvendo qualquer desordem mental que levam as pessoas a terem um impulso de cometer algo e que eles iriam trabalhar para entender isso e poderem me apoiar de algum jeito à distância. Que eles ficavam tristes de eu morar no Brasil e saber que provavelmente não existem grupos de suporte para o meu problema que me ajudassem a gerenciar a minha doença em conjunto com a minha vivência na sociedade.

Gente, esse email foi muito importante para mim e eu fiquei impressionado com a resposta deles. Conseguir obter esse tipo de suporte e apoio de pessoas que eu não vejo a mais de 5 anos mas que mesmo assim mantiveram contato ao longo dos anos e que agora mostram que se importam de verdade comigo. O sentimento é indescritível, realmente não consigo descrever isso. Esse tipo de atitude realmente salva a minha vida. Nos momentos em que os meus pensamentos são ruins e que o suicídio parece ser a única saída saber que tem pessoas que te amam e que te apoiam fazem a diferença.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Atraso 2

Oi,

Outra vez com dois posts no mesmo dia. Não tenho por hábito ter material mental suficiente para escrever dois posts no mesmo dia mas como estou a algum tempo sem escrever acredito que as coisas acabaram por acumular dentro de mim. Claro, tenho tentado manter uma conversa comigo mesmo de maneira que eu não reprima nada dentro de mim entretanto ainda não tenho um bom controle sobre isso e a minha tendência natural é simplesmente guardar as coisas.

Estava falando no último post que passei por um período bem ruim após ter sido obrigado a usar a tornozeleira. Falei bastante sobre como estava me sentindo em relação a isso neste post aqui. Após isso tive uma sessão com a psicóloga na qual eu basicamente contei tudo que estava nesse post que acabei de linkar mais acima. Falei para ela que estava me sentindo muito mal, muito triste e principalmente sem ânimo e sem esperança de que as coisas fossem melhorar. Inclusive descrevi um cenário para ela que, se acontecesse, eu preferia me matar do que ter enfrentar isso. Disse para ela que esta decisão de terminar minha própria vida, neste cenário, não era baseado em sentimentos e sim em lógica, ou seja algo racional. Ela então me falou que sim, esse cenário é válido e possível de acontecer. Que eu tenho um grande problema por ser extremamente racional em conjunto com ser extremamente ansioso já que eu acabo projetando cenários horríveis para o meu futuro e perco foco no presente. Que eu tenho que aprender a levar a minha vida um dia de cada vez e que eu não posso me paralisar no agora por algo que pode vir a acontecer no amanhã. No final da sessão ela também me recomendou ir buscar ajuda com o psiquiatra para tomar alguma medicação que me ajudasse a lidar com a minha depressão já que ela estava muito profunda.

Conforme mencionei no último post isto me assustou muito. Em parte porque significaria tomar mais remédios para a cabeça e eu tenho um certo preconceito com isso. A outra razão que me assustou foi ela ter sugerido eu ir buscar essa opção de medicação. Ela como psicóloga já teve que lidar com outros pacientes que tinham depressão e imagino que muitos não necessitaram de intervenção medicamentosa para superar seus problemas. Infelizmente para determinadas pessoas em determinadas situações essa opção de remédios é necessária. Basicamente, ela me disse que acreditava que isso era o meu caso. Esta declaração me fez perceber o quanto sem ânimo eu estava, o quanto eu estava lentamente desistindo da minha vida no sentido de parar com ela por inteiro. Isto me fez ter ânimo para tentar, mais uma vez, dar a volta por cima do que eu estava passando e brigar por mim mesmo, pela minha saúde mental, sem que eu precisasse de remédios. Com isso pude dizer para ela na sessão seguinte que eu tinha voltado a me sentir melhor mas que estava de vigília de mim mesmo para que, caso eu me sentisse mal novamente, eu buscasse ajuda psiquiátrica em conjunto com remédios.

Essa minha melhora durou poucos dias. No mesmo dia dessa sessão ela me entregou o laudo psicológica dela sobre mim e sobre como a terapia tem sido útil na parte de controle de impulsos. De maneira sucinta ela escreveu o relatório condensando mais de 22 sessões de terapia e mesmo assim evitando de entrar em muitos detalhes sobre algumas partes. Entretanto, apesar de clara, este laudo dela joga uma luz não tão favorável em minha pessoa. Basicamente ela relata que sim, tenho problemas de auto estima e de controle de impulsos além de uma separação grande entre o emocional e o racional que facilita a minha natureza impulsiva. No final, na conclusão, ela menciona que no entanto eu tenho demonstrado a capacidade de questionar minhas próprias crenças e pensamentos de maneira a reconstruí-las de uma maneira melhor e que tenho a possibilidade de me controlar.

Um outro detalhe que ela colocou, erroneamente e que foi corrigido posteriormente, é de que houveram pessoas convidadas a participar da minha terapia e que não quiseram comparecer. Eu havia mencionado para ela que achava que os meus pais necessitam fazer terapia também já que eles estavam, e estão, muito abalados com tudo que tem acontecido. Ela, no entanto, entendeu que eu queria que os meus pais fizessem parte da minha terapia e que eu os havia convidados mas que eles haviam se recusado a participar. Meus pais quando leram essa parte do relatório basicamente surtaram. Eles me perguntaram sucessivamente se a psicóloga havia convidado eles para participar e se eu havia dito que não no nome deles, sem nem mesmo perguntar para eles. Me acusaram de mentir para eles sobre isso e, apesar de ter tentando manter a calma e explicar para eles que devia ser um mal entendido já que nem eu mesmo havia compreendido isso que havia sido escrito, eu acabei perdendo a calma e brigando com eles. Isto me levou a um estado de nervos muito grande e minha ansiedade foi no teto.

Conversei com a psicóloga via WhatsApp e pedi para ela corrigir isso mas fiz esse pedido de uma maneira bem chata e pentelha. Quando estou num acesso de nervoso eu sou uma pessoa beeem chata mesmo, acredito que seja meus ataques de mania devido ao meu espectro bipolar. Nisso, no dia seguinte tive uma reunião com os meus advogados para a gente conversar sobre o relatório tanto do psiquiatra quanto da psicóloga. O do psiquiatra foi ok mas eles caíram de pau no da psicóloga. Tenho que concordar com eles, e já disse isso para a psicóloga, que infelizmente o juiz que solicitou o relatório não será parcial ao ler ele. Apesar da conclusão me redimir, e jogar ao meu favor, o conteúdo em si do relatório faria com que o juiz decretasse minha prisão preventiva novamente. A tornozeleira foi instituída já que existe a possibilidade de que eu venha a fazer algo novamente e que não era justo requisitar a prisão preventiva sendo que eu não havia cometido nenhum crime novo. Entretanto, o relatório da psicóloga é incisivo ao apontar minhas "falhas" e que isto seria interpretado pelo juiz como motivo suficiente, e entregue pela minha própria defesa, para me prender. Seria possível que eu fosse liberado novamente, via habeas corpus, já que a possibilidade de um crime não justifica uma prisão mas isto tomaria novamente alguns meses e eu teria que passar o final de ano (Natal e Ano Novo) na cadeia.

Mais essa notícia na minha cabeça me fez cair ainda mais em uma angústia e desânimo profundos. Me sentia muito mal mesmo e novamente comecei a contemplar pensamentos ruins. Ao conversar sobre tudo isso que passou com a psicóloga na sessão passada falei para ela que, apesar de ter me sentido muito mal novamente, que eu havia conseguido com a ajuda dos meus pais me reerguer novamente. Entretanto, falei que havia percebido como a minha depressão está muito aflorada e que não é necessário muita coisa para me fazer entrar em um estado pior da mesma. Falei então que na próxima consulta com o psiquiatra irei pedir para que ele me receite algo que me ajude com a depressão porque acredito que ficar neste estado tão sensível de ânimo e humor não é bom para mim a longo prazo. Tenho possivelmente ainda alguns anos de apelação da sentença e ficar estes anos desta maneira não é viável.

Basicamente, estes foram os eventos maiores da últimas semanas. Irei tentar voltar a postar mais aqui no blog para evitar que ele fique jogado às moscas. Escrever aqui, mesmo que para leitores anônimos, me faz bem porque me ajuda a tirar de dentro de mim muita coisa que eu penso e sinto. Já percebi que sinto uma facilidade muito maior para expor meus sentimentos de uma maneira escrita do que de uma maneira falada. Acho que isto tem muito a ver com o fato de que aqui, apesar de saber que existem pessoas lendo, não existe uma pessoa me vendo e ouvindo. Ainda sou muito introvertido por natureza e anos e anos de hábito de guardar tudo o que eu sinto me dificultam expor isto de uma maneira mais clara quando existe uma audiência. Aqui existe um distanciamento entre a minha pessoa e seja quem for que esteja lendo. Essa experiência é um tanto esquisita, para ser honesto, mas eu particularmente gosto. Gostaria entretanto que alguém algum dia postasse um comentário, nem que seja para falar mal de mim ou do que escrevo. Por mais estranho que seja, apesar de achar bom o distanciamento natural que existe entre o autor e o leitor gostaria que houvesse uma comunicação bi-direcional aqui, ou seja, houvesse um contato leitor -> autor um dia. :)

Atraso

Oi,

Faz algum tempo desde a última vez que eu postei aqui. Eu meio que perdi um pouco do pique para escrever aqui sobre tudo que estava acontecendo.

Originalmente eu iria dizer que a razão de eu não ter entrado numa depressão maior foi algo que a minha psicóloga tinha dito. Quando eu falei para ela como estava me sentindo cansado mentalmente e que estava cada vez mais sentindo uma falta de vontade de continuar vivendo (academia, terapia,  etc) ela comentou que talvez eu deveria marcar uma consulta com o psiquiatra. A razão disso era porque ela acreditava que eu estava entrando em uma depressão muito profunda e que talvez fosse necessário tomar medicação para evitar que eu ficasse mais depressivo e cometesse uma besteira.

Em uma das sessões que eu tive com ela eu havia comentando que eu não gosto de tomar remédios para a cabeça. Sempre tive um preconceito com isso relacionado com o fato de que eu acredito que a minha melhor qualidade é a minha inteligência. Logo, tomar algo que mexa com o meu cérebro me deixa muito apreensivo e com medo.  Sempre imagino que isso de alguma maneira irá afetar minha capacidade intelectual. 

Ao mencionar a questão de tomar mais remédios para cabeça, além do que eu já estou tomando, a psicóloga me deu um susto duplo. Além de me assustar pelo fato de que não quero tomar mais remédios o fato de que ela como psicóloga, que já teve outros pacientes com depressão, acreditar que eu estava em um ponto que remédios eram necessários me obrigou a encarar a minha realidade. Essa realidade dizia que eu estava me deixando entrar em uma depressão severa e que eu poderia estar lutando para evitar isso mas não estava mais com vontade de fazer isso. Isso me fez tomar consciência de que eu precisava arrumar forças para continuar lutando. Não só pelo fato de não ter que tomar remédios mas pelo fato que mesmo com remédios se eu não tiver a vontade de continuar minha vida vai ser muito difícil.

Tomada essa decisão, me senti melhor e descrevi isso para ela na sessão seguinte (a de duas semana atrás).  Falei que estava me sentindo melhor e que tinha recuperado parte do ânimo para continuar lutando. Que eu não estava bem e que isso era verdade desde q eu sai da cadeia, mas que estava tentando voltar ao meu normal (que agora é um estado ligeiramente depressivo).

Isso durou por alguns dias e dai tive outra recaída, decorrente de outro evento que eu vou relatar num outro post.  Devido a isso eu percebi como meu humor está sensível e volátil. Como estou suscetível a influências externas de uma maneira que eu nunca fui. Sempre fui uma pessoa assertiva, beirando o agressivo em certas situações, mas com confiança em mim mesmo beirando a arrogância.

Agora no entanto me tornei extremamente inseguro sobre mim mesmo, minhas opiniões, e me tornei muito submisso aos outros.  Isso abre um buraco em minhas defesas mentais e permite que eventos externos me afetem diretamente. Como estou já depressivo esses evento externos tendem a me trazer mais para baixo ainda.

Devido a isso decidi que irei conversar com o psiquiatra e pedir para ele me receitar anti depressivos. Preciso de ajuda para me estabilizar e evitar que eu fique toda hora caindo em uma depressão mais profunda.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Cansaço físico (e mental também)

Oi,

Desculpem não ter postado nada nestes últimos dias. Imagino que talvez alguns tenham pensado que eu finalmente decide acabar com tudo mesmo e que eu tivesse cometido suicídio. Entretanto, ainda estou por aqui.

Quis escrever este post somente para dizer que estou bem (na medida do possível) e vivo ainda. Tive uma longa conversa com a psicóloga sobre tudo isso que eu estava pensando e estou tentando mudar algumas coisas na minha cabeça em relação a essa depressão que eu entrei após a audiência.

Estou muito cansado hoje, foi um dia corrido fazendo um monte de coisas, fora um treino mais aeróbico na academia hoje. Não estou com saco, para ser bem honesto, de escrever tudo que ando pensando nestes últimos dias. Até certo ponto, seria um exercício de futilidade já que a minha cabeça mudou bastante sobre um monte de coisas nestes dias. Entretanto, gostaria de escrever sobre essa sessão com a psicóloga e o resultado disto. Como imagino que isto vá demorar um tanto vou tentar fazer isso neste final de semana. Até porque, estou de castigo no final de semana e não posso sair de casa mesmo.

Então, até o próximo post

sábado, 31 de outubro de 2015

Castigo

Oi,

Desculpem não ter postado nada nos últimos dias, mas tenho estado com a cabeça a mil e não consegui simplesmente parar para escrever algo aqui. Em tese, este post deveria ser curto porque não estou sentindo muita vontade de ficar escrevendo hoje. Entretanto, a maior parte dos outros posts deveriam ser curtos mas quando eu vejo já escrevi um monte.

O título do post é referente ao que eu entendo como é minha situação no momento. Primeiro final de semana com a tornozeleira e ainda dou a sorte de pegar um feriado nacional na segunda feira. 3 dias de molho em casa sem poder colocar o pé para fora. Não é 100% verdade essa afirmação porque existe um raio de erro de 100 metros devido a classe de precisão (ou no caso, de imprecisão) do sensor de GPS da tornozeleira. Entretanto, não vou ficar brincando com essa "folga" que existe no GPS e me arriscar a voltar para a cadeia novamente. Outra coisa que eu descobri é que este sistema de tornozeleira é passivo e não ativo. Isso significa que, como ele fica a maior parte do tempo sem sinal de telefone para enviar os meus dados de localização para o sistema, a tornozeleira armazena onde estou até um certo ponto (o quanto eu não sei) e quando consegue sinal envia de uma vez só todos os dados.

O sistema do outro lado que analisa os dados recebidos que irá dizer se eu cometi alguma infração ou não. Isso significa que mesmo que eu saia de casa não seria imediatamente notificado e preso, mesmo assim isto aconteceria eventualmente. Esta divagação toda é só uma amostra de tudo que tem passado pela minha cabeça nestes últimos dias, e essa é a parte mais tranquila. Voltar a não ter liberdade, mesmo que somente em alguns dias, me trouxe uma série de lembranças da época em que eu estive preso.

Todo mundo me diz que eu devo ficar agradecido de não ter sido preso e que somente estou com uma tornozeleira eletrônica e limitado a ficar em casa (um lugar melhor que a prisão) por alguns dias. Eu entendo, pelo lado racional, completamente o que eles me dizem. Concordo 100% de que a tornozeleira é infinitamente melhor que a cadeia. Entretanto, nenhuma destas pessoas teve que passar um período preso. Realmente é verdade que ficar em casa é muito melhor que ficar na cadeia devido a uma série de coisas como comida, higiene, privacidade, entretenimento (uma das coisas mais difíceis de estar preso é ter todo o tempo do mundo e nada para fazer) e uma série de outras coisas. Ainda assim, a sensação de ter algo preso ao seu tornozelo que irá te rastrear a todas as horas do dia é algo muito opressivo para mim.

Me lembra a sensação que eu tinha toda vez que os agentes penitenciários fechavam a porta da cela (às vezes, sem razão nenhuma aparente e sem nenhuma explicação) e você não sabia quando a porta abriria de novo. Mesmo quando a porta da cela era aberta, o portão da galeria estava fechado. Um lembrete constante de que você não possui liberdade, mesmo quando está "livre" de ficar em sua cela. Mesmo que o portão da galeria estivesse aberto, o portão do corredor de acesso à galeria estaria fechado. Você pode até descer as rampas até o corredor de acesso mas não passaria do portão (fora que os agentes não se sentem a vontade com você perto deste portão e normalmente te mandam subir de volta para a galeria). Mesmo que o portão do corredor fosse aberto para você (para obter atendimento médico, parlatório com os advogados ou etc) o portão principal que dá acesso a área administrativa da prisão estaria fechado. Passando este portão você chegaria em um longo corredor até o portão principal para à área administrativa externa (recepção e etc...) e somente algemado e com um marco-passo você chega aqui. Além disto existe uma porta (dessa vez uma porta comum) e além disto os portões de entrada da cadeia. Um longo caminho de onde você está até a liberdade. Não mais, na maior parte das vezes, que 150 metros. Algo tão perto e ao mesmo tempo tão longe.

Isto é o que eu sinto com a tornozeleira, que estou sendo vigiado de uma certa maneira de tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Sinto a mesma agonia de estar privado de simplesmente fazer qualquer coisa que eu sinta vontade. De ir ao mercado ou ao shopping ou algo assim. Coisas tão banais que não damos a mínima atenção durante nossas vidas. Quando temos estas pequenas liberdades removidas sentimos como estas pequenas coisas se somam para significar algo muito maior.

Novamente digo que a minha parte racional entende perfeitamente a razão de estar com a tornozeleira, como isto tem alguns benefícios para mim e que, mais importante, ao realizar um crime eu serei punido e terei direitos limitados ou removidos. Tal qual uma criança tem ao ser colocada de castigo por seus pais. Emocionalmente falando me sinto oprimido, como se uma sombra pairasse sobre mim e que caso eu faça alguma besteira serei punido em dobro pelo o que eu fiz. Eu sinto medo do estado me vigiando da maneira como ele está me vigiando e fico com receio de cometer algum erro ou deslize bobo que agrave minha situação.

Tenho que tomar cuidado para que a bateria nunca acabe da tornozeleira. Se isso acontecer é uma falta grave, muito mais grave que simplesmente acabar a bateria do celular e não poder mandar uma mensagem no whatsapp ou ver o facebook. Serei colocado novamente na prisão imediatamente, sem que queiram saber a razão pela qual deixei acabar a bateria. Caso eu danifique a tornozeleira o mesmo problema acontece. Não importa se tropecei e bati com a perna em algum lugar, serei colocado novamente na prisão. Não posso nunca me esquecer do horário porque caso chegue em casa após as 23h em um dia de semana poderei ir para a cadeia. Com o agravante de que não sei qual é o horário na tornozeleira e no sistema de controle, logo preciso me prevenir e adotar uma margem de segurança (que estabeleci em 30 min) para minha própria segurança.

Logo, espero que entendam que não é simplesmente ter uma tornozeleira na perna que me faz sentir mal. Existe um conjunto de coisas que me tiram a paz de espirito. Perder a tranquilidade mental, pelo menos para mim, é uma maneira de se perder a liberdade. Para mim, uma das piores coisas em estar preso era justamente não conseguir parar de pensar em tudo que aconteceu. Perder essa calma mental, ter essa peso constante na cabeça é indescritível. 

Como restritiva de direito, a tornozeleira cumpre seu papel além do que o esperado. De todos os textos que eu li sobre a doutrina jurídica todos mencionam como ela é um meio mais humano de manter controle sobre um condenado, ou um réu num processo, com menos impactos financeiros para o estado e menos impactos sociais para a pessoa que a utiliza. Gostaria de saber como eles se sentiriam passando uma temporada na cadeia e posteriormente utilizando esta tornozeleira. Gostaria que todas as pessoas do mundo pudessem passar pela experiência de viver na cadeia, e ser tratado como eu vi tantas pessoas serem tratadas. Ser tratado como eu fui tratado. Tenho certeza que elas diriam que utilizar a tornozeleira é algo muito melhor! Neste momento gostaria que elas então pudessem fazer uso da tornozeleira com todas estes cuidados que eu listei anteriormente. Lembrando-os que qualquer falha da sua parte implica em voltarem, imediatamente, à cadeia. Sim, voltarem para o mesmo lugar do qual tenho certeza que qualquer pessoa diria que faria qualquer coisa para sair.

Ter este aparelho amarrado em mim é um lembrete constante do lugar para onde eu vou e no qual ficarei por anos. Um lembrete urgente de tudo que eu fiz de errado. Equivalente a uma letra escarlate costurado em minha roupa. Uma placa dizendo ao mundo que eu cometi um erro. Uma humilhação constante mesmo quando está escondida por uma calça. Porque mesmo que não esteja aparente para todo o mundo eu sempre sinto ela amarrada à mim. Sempre com receio de que alguém veja e reaja a sua presença. De que os poucos dias de liberdade que eu tenho antes de entrar na cadeia sejam erradicados pelo anúncio da sua presença.

Existem dias que por mais que eu lute contra mim mesmo para que eu não termine tudo aqui e agora eu sinto que esta luta é um pouco falsa. Como se eu me sentisse obrigado por lutar dessa maneira. De que o mais fácil seria desistir. Simplesmente me matar. Simples assim. Usar essa tornozeleira foi uma derrota mental muito grande para mim. Estava convencido de que seria preso na penúltima audiência. Nada me demovia disto. Quando foi necessário marcar uma nova audiência eu, em conjunto com a psicóloga e com os advogados, tive que trabalhar muito para mudar minha cabeça. De que não seria preso na audiência seguinte. De que nada aconteceria. Entretanto essa convicção foi destruída. Esmigalhada pela promotoria pública.

A minha quase prisão que culminou nessa tornozeleira foi um golpe duro na minha psique. Eu estou com medo de que enquanto ela se recupera minha cabeça esteja muito venerável a ter esses pensamentos ruins sobre se matar. Mesmo escrevendo sobre isto agora não consigo ter a mesma resposta do que antes. De dizer para mim mesmo de que se matar não é a resposta, que existem consequências para todos os atos e que eu deva arcar com as minhas. De pensar que existem pessoas que estão me apoiando, apesar de tudo, e que me matar vai ter um impacto enorme nelas. Nos meus pais. Nos meus amigos. Na minha família. Mesmo sabendo disto racionalmente, não sei mais se a lógica envolvida em me matar não é a mais correta. Ela parece ter várias falhas e inconsistências e desvantagens mas me parece ao mesmo tempo ser a melhor saída.

Eu segurei toda a carga emocional e psicológica dos meus pais quando a minha irmã morreu. Fiz isso por 2 anos. Fiz isso da pior maneira possível, reprimindo o que eu sentia dentro de mim e armazenando a tristeza e angústia deles também. Fiz isso até o ponto que eu me esgotei mentalmente e emocionalmente (falei sobre isso no post Medo). Quando achei que tinha feito algo para me recuperar (mudar de área dentro da minha empresa) descobri que a minha decisão foi péssima. Isto foi acumulando e acumulando dentro de mim e acho que devido a isto fiz o que eu fiz. Simplesmente ter machucado alguém inocente.

Após isto continuei anestesiado até o dia em que fui preso no começo deste ano. Desde então, passei por uma série de emoções como raiva, tristeza e etc. Raiva do mundo que no final descobri ser raiva de mim mesmo. Fui solto e procurei ajuda e comecei a melhorar minha cabeça. Consegui, finalmente, após mais de dois anos erguer minha cabeça. Comecei a perceber meus erros ao longo deste tempo todo e o impacto que isso me gerou. Comecei a melhorar a mim mesmo, melhorar a minha visão do mundo, meu controle sobre mim mesmo. Consegui até reverter esse meu medo aterrorizante e paralisante (novamente, ver post Medo) e transformar isto numa esperança de que nada daria errado. Talvez tenha transformado esta esperança numa expectativa irreal. De qualquer maneira, ter minha esperança destruída de maneira tão simples e efetiva me derrubou novamente. Todo o meu trabalho dos últimos meses parece ter ido por ralo abaixo. Não sinto mais vontade de continuar a me esforçar para nada. Para ir a academia, para continuar o regime, o tratamento. Sinto vontade de para com tudo. Para de viver. Terminar a minha própria vida. 

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

E o mundo continua girando...

Oi,

Estou aqui ainda! Coisa para se comemorar mas foi por pouco que retorno para a cadeia na própria audiência de instrução. Felizmente as coisas correram quase que inteiramente dentro do planejado. Me declarei culpado assim como estava planejado. De uma maneira geral esperava um interrogatório mais pesado por parte da promotoria mas quem fez a maioria das perguntas pesadas foi o próprio juiz.

Ao final da audiência, quando todos estavam se preparando para ir embora (o juiz já estava na porta com metade do corpo para fora) a promotora pública declarou que gostaria de solicitar a minha prisão preventiva novamente. Que no meu depoimento eu declarei que sou um risco à sociedade em decorrência da minha doença e de que eu deveria ser trancafiado. Neste momento eu quase desmaiei. Até o juiz voltou para a sala de audiência com uma cara de "O que?"... Ele então pediu que ela fizesse o requerimento e anexasse ao processo que ele iria considerar após receber a defesa por escrita dos meus advogados. A promotora se recusou e disse que gostaria de fazer a defesa oralmente de maneira que, caso o pedido dela fosse acatado, eu fosse preso imediatamente.

Felizmente meus advogados, após argumentar que uma pessoa não pode ser presa simplesmente devido à probabilidade de ela cometer um crime, conseguiram evitar a minha prisão. Entretanto o juiz decretou que eu utilize uma tornozeleira eletrônica por 90 dias. Não posso sair de casa após das 23h da noite e nem antes das 06h da manhã durante a semana. Nos finais de semana não posso sair de casa de maneira nenhuma.

Enquanto isto era decidido pelo juiz, e os dois lados argumentavam um contra o outro, eu simplesmente fiquei com a cabeça baixa, ambas as mãos em cima da mesa, e tremia descontroladamente. Não consigo me lembrar da maior parte do que foi dito na sessão. Realmente achei que iria novamente retornar para a cadeia e que haveria uma nova rodada de pedido de habeas corpus que poderiam demorar novamente 2 meses para serem julgados. Acho interessante quando vejo na televisão alguns presos conseguindo habeas corpus dentro de uma semana após serem presos. Isso me demonstra claramente que quando se tem dinheiro e influência se consegue tudo neste país.

De início fiquei extremamente aliviado por não ter sido preso. Após isto fiquei muito incomodado por ter que utilizar esta tornozeleira e ter que seguir uma série de regras para garantir que eu não vá novamente para a prisão (não arrebentar o lacre, manter sempre carregado a bateria, cuidar dos horários). Entretanto, após pensar sobre tudo isso, vi que existem algumas vantagens até para a minha segurança. Fiquei imaginando se acontecesse algo com a vítima, ou com a família dela, e que isto resultasse em um outro processo no meu nome. Digo isto porque eu seria uma pessoa com um motivo, vingança ou retaliação, muito forte e obviamente seria considerado um suspeito. Com esta tornozeleira se isto acontecer posso provar cabalmente que não estava nem perto do local do acontecido.

Outra coisa que a minha psicóloga falou hoje é que caso aconteça um crime parecido com o que eu cometi, posso usar esta mesma defesa para demonstrar que não tive nada a ver com o acontecido. De uma maneira geral a tornozeleira traz uma certa segurança para mim. Não somente para mim mas para outras pessoas que poderiam, hipoteticamente, serem potenciais vitimas. Caso eu, hipoteticamente, reincida no crime eu seria facilmente identificado e dai sim preso justamente poupado outras pessoas de serem vitimas.

Concordo 100% com a psicóloga, mas ainda disse a ela que me sentia incomodado de usar a tornozeleira mas não pela tornozeleira em si. Ficava incomodado porque percebo que houve uma má fé por parte da promotora em querer me enviar para a prisão. Entendo o argumento dela de que com a minha doença existe um risco inerente, mas isto não justifica uma prisão. Se ela tivesse pedido a tornozeleira ou uma prisão domiciliar eu ficaria tranquilo. Ter pedido a prisão com a justificava que pessoas como eu devem ser removidas da sociedade é um argumento crasso e estúpido. Se este fosse o caso então deveria eu abandonar o meu tratamento? Já que segundo ela minha condição é incurável e de alto risco para a sociedade de maneira geral? Deveria eu então ser preso para o resto da minha vida, coisa que a constituição não prevê? E quando acabar minha pena e eu ser solto na sociedade novamente? Como ficará dai?

Vejam, entendo que existe um risco inerente a minha doença que me faça a ter um impulso de difícil controle e que me leve a fazer algo ruim. Por isto mesmo que eu acredito que no meu caso eu devo continuar tendo acesos ao tratamento psiquiátrico e psicológico continuo, mesmo na cadeia. Interromper este tratamento é um risco potencialmente maior que me deixar solto. Repito, a tornozeleira neste caso é uma segurança mútua para ambos os lados e não me incomodo de usar ela.

O que me incomoda é alguém que, em tese, deveria ter vivência e experiência convivendo com atos iguais ao que eu cometi demonstrar uma ignorância absurda em relação à minha condição. Buscar a saída mais simples sem analisar o contexto é digno de alguém que não tem a mínima capacidade de consideração.

Entretanto, por mais que eu fique indignado com isto tudo o passado é o passado e a única coisa que podemos fazer é viver o presente e mudar o futuro, desde que isto seja nossa objetivo. O meu objetivo é mudar meu futuro, da melhor maneira possível. Se isto significa acompanhamento psicológico e tratamento com médicos receitados pelo psiquiatra então que assim seja.

Se eu estiver disposto a mudar e me esforçar para isto de maneira que eu consiga identificar os padrões que me levem a cometer o mesmo erro e evitá-los então eu terei realmente atingido o meu maior objetivo. Este é o meu sonho.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Normandia

Chegou o dia 27/10. Eu iria dizer que é o dia mais temido do ano mas o dia 30/06, a data da primeira audiência, também me pareceu assim. Estou calmo hoje, não sei se de verdade ou de uma maneira simulada. Talvez choque e o meu cérebro se recuse a acreditar que estou morrendo de medo. Ao mesmo tempo minhas mãos tremem sem que eu consiga entender o porque ou controlar. Com certeza é a ansiedade mas repito, novamente, que aparentemente estou calmo.

Talvez este seja o último post por algum tempo. Não acredito que irei regressar a prisão hoje mas tudo é possível. Neste caso, se por ventura eu não volte da audiência, eu gostaria de agradecer a todos que têm lido este blog. Ainda não consegui entender porque existem pessoas dos Estados Unidos e da Rússia lendo este negócio (pelo menos, é o que as estatísticas de acesso me dizem) mas de qualquer maneira são leitores bem vindos. Imagino que a essa altura do campeonato já seja possível ter uma idéia do que aconteceu comigo e o que eu cometi. Espero que também tenha ficado claro os meus sentimentos em relação a mim mesmo e a situação como um todo.

De uma certa maneira, este blog se tornou uma vitrine dos meus pensamentos para um público desconhecido. Me sinto extremamente fragilizado de estar expondo estes pensamentos para pessoas que nunca conheci e que podem estar me julgando das mais diversas maneiras. Ao mesmo tempo essa capacidade de ser totalmente honesto e aberto, transparente inclusive, com pessoas que não conheço é uma sensação aterrorizante mas emocionante ao mesmo tempo. Para alguém que não se abria com ninguém fazer isto, mesmo que seja através de um texto, para pessoas desconhecidas é bizarro.

Deve retornar da Batalha da Normandia hoje e irei atualizar este post, muito provavelmente amanhã. Caso volte para casa hoje não irei fazer nada a não ser passar o dia com meus pais.

Vamos em frente, ter força!

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

domingo, 25 de outubro de 2015

Bliss Redux

Oi,

Pelo nome do post já dá para entender que é novamente sobre algo inesperado mas que foi legal. Eu falei no último post, que tinha o nome de Bliss, sobre como foi legal dar uma saída na sexta-feira e ir para um barzinho com algumas amigas. Foi algo totalmente inesperado e acho que por isso a sensação de que foi tão bacana é tão forte.

Ontem, no sábado, aconteceu algo bem parecido! Um amigo meu, que inclusive vai testemunhar a meu favor no dia 27, me mandou uma mensagem me convidando para ir comer uma pizza com ele e a esposa dele. Somos amigos já faz algum tempo, mais de 10 anos, e sempre me dei bem tanto com ele quanto a esposa dele. Ele já havia vindo aqui em casa duas vezes desde que eu saí da cadeia mas a esposa dela ainda não tinha encontrado. Já havia falado com ela via telefone algumas vezes e sabia que ela estava tranquila em relação a mim. Com isso quero dizer que não estava me rejeitando ou surtando em relação ao que eu fiz. Claro que isso não quer dizer que ela concorda com nada do que eu fiz, mas ela entende o meu contexto e me apoia bastante para ir na psicóloga e no psiquiatra. Logo, ver ela pela primeira vez em alguns meses foi bem legal.

Se divertimos bastante, que nem antigamente (antes de ter todos estes problemas). Tomamos um vinho, comemos pizza e ficamos batendo papo sobre um monte de coisas, desde filmes até livros e etc. Claro, falamos também sobre a minha situação porque ela é advogada (especializada em trabalhista) mas de uma maneira bem legal. Gosto muito de ambos e respeito eles também. São pessoas bem legais e sérias, que ponderam bastante as coisas então sempre gostei de ouvir as opiniões deles sobre tudo. Agora, com a minha situação em um caos total, prezo bastante a opinião deles sobre como as coisas estão, em como eles veêm meu futuro, o julgamento e etc. No geral, posso dizer que foi uma experiência muito agradável. Chegamos lá por volta das 20h30m e saímos era quase 1h da manhã! Pizzaria que fomos é bem legal também, nunca havia ido lá e além de a comida ser muito gostosa o atendimento é 10! Em resumo, uma noite muito bacana mesmo!

Para quem estava a alguns dias tendo crises fortes de ansiedade e pavor, ver post Medo, ter logo em seguida ter tido dias tão legais é desconcertantes. Digo isto porque nunca imaginaria que eu teria a chance de sair dois dias seguidos sendo convidados por pessoas que eu gosto de uma maneira totalmente aleatória. Claro, imagino que estes meus amigos aproveitaram a chance de que iam sair e lembraram de mim (e sabendo de como eu devo estar me sentindo nessa semana que antecede o dia 27) e resolveram me convidar. Essas surpresas, por serem algo que eu realmente não esperava, me fizeram tão bem quanto a experiência de sair nos dois dias me fizeram.

Estava realmente me sentindo mal nessa semana e ter tido a chance, do nada, de espairecer e dar risada com algumas pessoas que eu adoro é incrível. Acho que estava me sentindo um pouco abandonado pelo mundo em geral (eu e as minhas piras de rejeição). Ter tido essas duas surpresas concomitantes foi além do que eu poderia imaginar de algo bom acontecendo comigo.  Me acalmaram a mente e principalmente me ajudaram a diminuir um pouco a ansiedade. Ela ainda está aqui, ainda sinto vontade de subir pelas paredes e arrancar os cabelos, mas sei que existem pessoas que se importam comigo e que estão por ai quando eu precisar.

Isto é algo que eu deveria saber já. Sim, várias pessoas sumiram da minha vida mas estas poucas boas pessoas ficaram. Não deveria duvidar de que elas estão me apoiando de verdade ou de que elas se importam mesmo comigo. Minha cabeça no entanto me faz ter algumas piras sobre como todo o mundo me abandonou e que eu estou sozinho para enfrentar tudo que está vindo. Acho que isso é muito derivado do fato de que eu me isolei de todos (minha família, meus amigos) por anos a fio guardando um segredo dentro de mim o qual não poderia contar para ninguém. Nunca pude confiar 100% em alguém, não por achar que essa pessoa era indigna de confiança mas porque eu acreditava que nunca poderia revelar esse segredo para ninguém.

É baseado nessa crença que eu me impedia de ir buscar ajuda profissional num psicólogo ou psiquiatra. Simplesmente não me sentia a vontade de relatar a ninguém o que eu sentia e pensava. Muito mais que isso não me sentia a vontade de relatar o que eu era (e sou ainda) e como isso afetou quem eu sou. Se eu tivesse tido a maturidade para ter dado esse passo antes talvez minha vida não estaria do jeito que está hoje. Possivelmente eu não teria ido para a prisão e não estaria no meu caminho de ir para lá novamente. Este é um dos maiores pontos positivos da minha prisão este ano, acredito eu.

Não precisei contar para ninguém meu segredo, ele foi escancarado a força para todo o mundo ver. Meu maior medo, que era ser descoberto pelo o que eu sou, foi concretizado. Da noite para o dia minha vida inteira caiu em pedaços. Perdi meu emprego, vários amigos e algumas pessoas da minha família. No entanto, isso resultou em várias coisas boas também. Pude ser honesto com as pessoas que eu amo e recebi apoio delas de volta. Pude procurar ajuda de uma maneira consciente. Tem dias que eu acho que não quero mais ir para a terapia porque descubro cada vez mais que eu não me conheço. Descubro coisas que não acho boas em relação a mim mesmo. Acho que não vou ter a força de vontade de mudar essas coisas ruins. Entretanto, persisto em continuar indo lá na terapia. Principalmente porque consigo perceber várias situações, algumas delas relatadas aqui em posts antigos, onde tive uma reação muito melhor do que teria antes de ser preso. Ver que todo esse esforço dá resultado me anima muito. Me da ânimo para continuar tentando e me esforçando.

Em resumo, o que eu mais percebo desta minha experiência toda deste ano é:

Existem lições que devem ser aprendidas do jeito difícil.

Como eu disse anteriormente eu poderia ter evitado muito dos meus problemas deste ano. Se eu tivesse sido um pouco mais aberto com os outros, um pouco mais maduro talvez eu não precisasse ter perdido tudo o que eu perdi. Talvez eu não precisasse perder alguns anos da minha vida na cadeia. A realidade, no entanto, é esta. Posso lamentar todas as chances que eu tive e não aproveitei e elas não irão voltar. No entanto, eu posso, e acredito que devo, aproveitar todas as chances que eu tenho na minha frente agora. Tentar fazer o melhor delas. Existe uma expressão no Japão, Ganbare!

 

Ela quer dizer, Se Esforçe! ou Força! ou Dê o melhor de si!  Basicamente, isto quer dizer que no final do dia os resultados que você vai ter em tudo dependem de você. Do seu esforço, da sua garra. Isso para mim tem tido um significado profundo. Somente irei melhorar se eu quiser melhorar. Somente irei me tornar uma pessoa melhor se eu quiser ser melhor. Depende do meu esforço e, claro, como diriam os Beatles: "With a little help from my friends!" .  A ajuda dos amigos tem acontecido e muito esses últimos dias!!!! 

sábado, 24 de outubro de 2015

Bliss

Oi,

Espero que todos estejam bem.

Ontem fiz algo inédito para mim nestes últimos meses. Sai com alguns amigos (sim, ainda sobraram alguns felizmente) e fomos em um barzinho. Não havia saído de casa para fazer algo assim desde que entrei em liberdade provisória. Simplesmente não me sentia a vontade de sair e de repente dar de cara com alguém que conhecia e que me odeia agora. Não sabia como seria a reação desta pessoa. Poderia passar simplesmente de fazer cara feia a fazer algum escândalo. Logo, mais pelo não que pelo sim, simplesmente não saia de casa.

Não tinha segurança nenhuma, minha auto estima estava bem baixa, e caso acontecesse algo assim não sabia como eu reagiria a tudo. Ás vezes tinha a impressão de que eu ficaria puto caso a pessoa falasse algo e temia que eu acabasse envolvido em alguma briga. Ás vezes tinha a impressão de que se a pessoa falasse algo eu simplesmente começaria a chorar histericamente e desabaria.

Entretanto, de uma maneira geral, todas as essas questões de auto estima tem ficado melhores (conforme eu já havia comentado anteriormente) e me sinto melhor em relação a mim mesmo. Claro, ainda percebo que minha auto confiança e auto estima estão baixos mas pelo menos consigo reconhecer isto agora. Este simples fato, de conseguir me analisar e reconhecer isto, aliado com o fato de que tenho tentando "me resolver" (no sentido, conversar mais comigo mesmo, refletir mais sobre mim mesmo) tem me ajudado e navegar melhor por estas incertezas. Ainda não é perfeito esse gerenciamento mas é muito melhor do que ele era antigamente.

Então me senti confiante de ir no barzinho com essas minhas amigas para espairecer a cabeça um pouco. Com a audiência chegando agora no dia 27 eu senti que eu precisava fazer algo para aliviar a tensão um pouco. Logo, tomar umas cervejas e bater um pouco de papo sobre qualquer besteira me pareceu uma ótima solução. O encontro foi bem legal, cheguei lá em torno das 18h30m e fiquei até 23h30m. Nunca fui muito de sair para ir em algum bar, sempre preferi fazer algo em casa mesmo. Logo, nunca fui de ficar muito tempo no bar mas só essas poucas horas que eu fiquei já me levantaram o ânimo de uma maneira impressionante.  Fiquei muito feliz de poder ter feito algo normal.

Entretanto, percebi após pensar um pouco que um dos maiores motivadores para ter ido ao bar foi a questão da audiência do dia 27. Apesar de ter uma mísera chance de 1 ou 2% de ir preso novamente nesta audiência é somente nisso que eu consigo pensar ás vezes. Tenho conseguido gerenciar melhor essa ansiedade e expectativas descomunais em relação a um risco tão pequeno mas nem sempre consigo fazer um controle adequado. Logo, essa ida ao bar me pareceu uma certa despedida aos meus amigos. Uma última chance de ver eles antes de ser preso por vários anos.

Percebi isso porque eu havia tentando marcar um churrasco com um outro grupo de amigos para este sábado que infelizmente não rolou. Quando eles me avisaram, via e-mail, que não ia rolar, porque tinham outros compromissos, eu respondi dizendo que entendia e que poderíamos marcar para o próximo final de semana; internamente, entretanto, eu fiquei bem mal e triste e principalmente angustiado. Esses meus amigos vão depor a meu favor, como testemunhas de carácter, na terça feira agora e somente vou vê-los nesse dia. Senti que essa minha angústia era devido a achar que a última vez que eu veria eles seria na audiência a medida que eu fosse algemado e colocado numa viatura para ser despachado para algum presídio. Bizarro, eu sei, mas era como eu me sentia.

Uma surpresa inesperada nessa ida ao bar foi que uma pessoa que eu conhecia anteriormente, mas não chamava de amigo e sim de colega de trabalho, apareceu junto. Esse cara havia me mandado umas mensagens após eu ter sido solto e elas fizeram um bem enorme para mim. Ele me falou que não queria saber o que havia acontecido e nem se era verdade ou não. Ele estava interessado em saber como eu estava, se eu precisava de ajuda ou de alguém para conversar que era para contar com ele. Que ele estava com a cabeça aberta, não queria fazer julgamento de ninguém mas que gostava muito de mim e por isso achava que eu merecia pelo menos uma chance. Nunca iria esperar isso de alguém como ele. Nós sempre se demos bem no trabalho, inclusive até em alguns churrasco da empresa e etc, mas como eu disse acho que nunca poderia ter chamado ele de amigo. Entretanto, aqui estava ele, alguém que mal me conhecia me dando um apoio fundamental para que eu soubesse que não estava sozinho, que existiam pessoas que queriam me ajudar.

Teve pessoas que eu considerava mais que amigos, que eu considerava como se fossem irmãos, que me abandonaram. Algumas destas pessoas que inclusive mandaram avisar, via amigos em comum que eu ainda tenho, que eu estava morto para eles. Destas pessoas eu esperava apoio e não tive. Acho que isto, mais até dos problemas que estou tendo com meu irmão de verdade,  foi um dos principais fatores que me quebrou ao meio. Minha auto confiança e minha auto estima, após ser rejeitado por estas pessoas, que eu considerava tanto, simplesmente estilhaçaram. Pensava que eu deveria realmente ser um monstro, um merda, para que até pessoas que eu conhecia a mais de 10 anos, pessoas que eu chamava de irmão e não de maneira leviana, estarem me abandonado. No entanto, aqui estava um exemplo de um cara que eu nem considerava meu amigo me dando uma super força, um apoio que foi fundamental. São nestas surpresas agradáveis que eu tento me focar e não nas desagradáveis. Pena que nem sempre isso é fácil de fazer.

Mais felizmente esse cara foi ontem no bar e pudemos trocar algumas palavras rápidas. Percebi que ele, assim como já havia dito anteriormente, não queria saber dos detalhes do que havia acontecido e nem nada do tipo. Percebi que ele estava realmente interessado em saber como eu tava, se estava procurando ajuda, se estava tomando remédios, se eu estava bem de verdade. Falou novamente que qualquer coisa era para eu dar um toque nele, no que ele pudesse ajudar ele tentaria. Se fosse bater um papo, tomar uma cerveja ou o que fosse. Cara, realmente existem pessoas boas no mundo. Estes meus poucos amigos que restaram mais essas surpresas que eu tenho de algumas pessoas me deixam muito feliz. Não consigo expressar em palavras como é poder escutar isso de uma pessoa. Saber que a pessoa genuinamente está interessado no teu bem estar, que ela não concorda com o que você fez mas entende que todos somos passíveis de erros e que temos que tentar sempre lidar com as consequências dos erros da melhor maneira possível. Novamente, cara, isso é fantástico!


PS:


O título deste post ia ser Incerteza. Incerteza porque quando eu comecei a escrever ia ser sobre que apesar de ter saído na sexta-feira e ter ficado melhor de ânimo hoje eu estava novamente angustiado e incerto sobre o meu futuro. Ia falar novamente que eu estava pirando e me sentindo triste e ansioso e uma série de outras coisas. Novamente, ao começar a escrever o post e escolhendo falar da parte boa (que foi ter saído) e me foquei mais nessa parte do que na parte ruim. Ter relembrado sobre ontem à noite e sobre essa pessoa que eu encontrei me fizeram, temporariamente, esquecer das coisas ruins que eu estava sentindo.

Após escrever o post inteiro acima, parei e reli ele algumas vezes. Tenho mania de fazer isso com todos os posts porque tento imaginar como uma pessoa estranha deve se sentir e pensar ao ler tudo isso que eu estou escrevendo. A medida que eu fui lendo e relendo eu percebi que eu estava muito feliz em poder contar tudo isso que eu contei. Muito feliz por ter passado por essa experiência. Sim, ainda estava me sentindo triste, angustiado, inseguro, incerto sobre o futuro. Entretanto, a felicidade e alegria que eu sinto é muito maior. Então, ao invés de focar na parte ruim eu vou focar na parte boa do que eu estou sentindo.

Entretanto, isso não significa que eu vou fingir que a parte ruim não está lá. Não vou enterrar esses meus sentimentos que nem eu sempre fiz ao longo da minha vida. Tenho que reconhecer que eles estão aqui dentro de mim e que eu preciso lidar com eles. Por isso que eu escrevi esse PS, meio longo, para dizer que além da alegria que eu estou sentindo também tem sentimentos ruins. Eles estão aqui e estão sendo gerenciados por mim. A existência deles dentro da minha cabeça me obrigam a honrá-los tanto quanto os sentimentos bons.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Medo

Hoje foi e tem sido um dia difícil....

Fui para a academia mas não sentia vontade de fazer nada, muito além da mera preguiça que me acomete só de pensar em ir fazer exercícios. Pela manhã toda eu sentia um senso de querer fazer nada, de me esconder de tudo e todos. Achar um buraco no chão e me deitar lá (vejam, nada a ver com cometer suicídio em si, somente a vontade de desaparecer) e deixar que o mundo continuasse o seu caminho enquanto eu ficava para trás...

Já senti isso antes, quando minha irmã faleceu. Chegou em um ponto de tristeza tão grande e de stress tão grande de cuidar dos meus pais (que obviamente estavam muito abalados) em que o meu cérebro simplesmente desligou as minhas emoções. Eu me senti anestesiado, indiferente a tudo que estava acontecendo á minha volta e comigo. Não sentia vontade de me matar nesse período, apesar de ter pensado nisso antes de acontecer essa anestesia geral, mas também não sentia vontade de continuar a viver. Assim como hoje pela manhã, sentia vontade de simplesmente deixar o mundo seguir o seu caminho enquanto eu ficava para trás. Eu pensava que seria ótima achar um lugar remoto e isolado, onde eu não precisasse interagir com ninguém ou com nada. Um lugar onde eu pudesse simplesmente sentar e ficar quieto.

Esse mesmo sentimento me invadiu hoje de manhã e por mais cômico que pareça foi um estranho completo que acabou me tirando desse estado. Estava fazendo exercício ao lado dele, no elíptico, e ele começou a puxar papo comigo. Sou uma pessoa bem introvertida e nunca faria isso por iniciativa própria então acho muito estranho quando vejo alguém tomando essa atitude. Esse sentimento de estranheza é ainda maior quando eu sou o foco dessa expansão extrovertida de alguém.

Acabamos batendo papo sobre perder peso (ele também está na luta para emagrecer) e como todo gordo existem certas histórias que somente tem graça se você é (ou já foi) gordo. Ficamos batendo papo por uns 15 minutos e essa conversa, totalmente aleatória, acabou melhorando meu espírito. Demos risada sobre diversas situações em que você tende a se meter quando é obeso e sobre vários outros assuntos relacionados.

Dai imagino que vocês pensem...se ele está melhor porque o título do post é Medo?

Bem, o título é medo porque eu ia começar contando sobre como eu estava me sentindo ao logar no blogger para escrever. Entretanto, me veio na cabeça essa história sobre hoje de manhã e não consegui me conter de não compartilhar ela. Engraçado, estava pensando agora.... sou uma pessoa introvertida por natureza, conforme mencionei anteriormente, mas aqui estou eu escrevendo sobre como eu me sinto para pessoas que nunca vi na vida. Inclusive, vi agora a pouco que houveram acesso deste blog da Rússia. Vai entender o que um Russo/a estava procurando para cair aqui....

A medida que fui contando a história sobre hoje de manhã fui me acalmando. Com isso meu medo foi diminuindo até que, apesar de continuar sentindo esse medo e ansiedade agora, o sentimento chegou em um nível controlável.  A pouco mais de 15 minutos atrás comecei a sentir um medo e ansiedade de uma maneira que eu não sentia a muito tempo. Meu coração começou a bater mais rápido e minha respiração começou a ficar mais trabalhosa e rápida. Senti minha cabeça cada vez mais leve e comecei a sentir náuseas, como se fosse passar mal. Tinha uma sensação de querer fugir de onde estava (meu quarto), de simplesmente abrir a porta da rua da minha casa e sair correndo. Não sabia para onde eu tinha que ir e nem o porque, mas eu queria sair de onde eu estava de uma maneira desesperada. Um sentimento de que algo ruim estava para acontecer iminentemente e que eu não sobreviveria se não fugisse imediatamente.

Por mais engraçado que seja, quando eu senti isso e loguei para postar sobre isso essas sensações ficaram mais fortes ou talvez mais urgentes. Entretanto, quando eu fui escrever, quando eu achei que o meu coração ia pular para fora do meu peito ou que eu iria enfartar, eu lembrei dessa pessoa de hoje de manhã e comecei a dar risada. Dar risada da situação (do introvertido sendo obrigado a ser levemente extrovertido forçadamente) como um todo e como ela me fez bem.  Essa lembrança, e algumas risadas por lembrar disso, me fizeram ficar mais calmo até que posso dizer que agora estou novamente tranquilo. Tranquilo daquele jeito né? Nervoso? Sim! Ansioso? Sim! Com medo? Sim! Gerenciáveis? Também sim!

Estava lembrando aqui também, a única outra vez em que eu senti esses sintomas, e não com esse sentimento de querer fugir, foi quando eu fui transferido para a segunda prisão que eu fiquei. Quando eu cheguei lá um dos agentes me perguntou sobre o que eu tinha feito e eu, idiota e ingênuo, respondi. Ele começou a me xingar imediatamente e começou a me dar ombradas. Assim que eu sai do local onde era feito o cadastro e fui para onde eu iria receber as roupas (laranjas, bem estilo seleção holandesa) ele contou para todos os outros agentes e alguns dos outros presos que estavam por perto no pátio (separados de onde eu estava por uma grade).

Todos essas pessoas começaram a me xingar, me ameaçar de morte e várias outras coisas. As que tinham acesso a mim toda hora vinham me agredir fisicamente de alguma forma (seja via ombradas, joelhadas nas pernas e alguns tapas). Fiquei mais de 40 minutos de pé, olhando para essa grade que me separava de alguns dos presos, enquanto eles ficavam do outro lado chutando a grade e me xingando. Fiquei esses 40 minutos algemadas, sem poder me mexer porque caso eu tentasse mudar o meu pé de apoio, algum agente vinha e me agredia. Esses mesmos 40 minutos debaixo de um sol forte, sem poder levantar as mãos até o meu rosto para me proteger. Este mesmo tempo sendo agredido verbalmente, sofrendo uma pressão psicológica intensa.

Neste momento sentia os mesmos sintomas físicos que eu descrevi mais acima. Interessante, entretanto, que não sentia a vontade de fugir. Talvez porque soubesse que isso não era possível por mais que eu quisesse. Afinal, teria que de algum modo passar por mais de 10 agentes, pular um portão enorme, fugir dos cachorros de guarda (que são enormes), não levar nenhum tiro dos guardas nas torres de vigia para só então chegar no estacionamento do presídio. Dali, teria que andar uns 4 kilômetros via estrada de chão para chegar a uma rodovia de onde poderia voltar para a cidade. Tudo isso algemado e pesando mais de 160 kg. Totalmente inviável.

Estes sentimentos entretanto somente pararam quando eles finalmente me levaram para a cela onde eu iria ficar. Para fazer isso era necessário passar por um corredor onde ficava a enfermaria. Após este corredor havia um portão fechado e o conjunto de celas onde eu iria ficar era após este portão. Neste corredor haviam vários presos que estavam aguardando atendimento médico. Todos eles haviam visto o que tinha acontecido comigo e ouvido qual era meu crime. Até então, eles se limitavam a gritar xingamentos de longe, já que este corredor ficava em torno de 40 metros longe. A chance deles de fazer algo a mais somente se apresentou nessa hora.

Vejam, existe uma norma de que os agentes penitenciários são responsáveis pela integridade física do preso e devem zelar por ela. Isso significaria impedir que alguma pessoa me agredisse. No mínimo irônico, sendo que eles mesmo estavam me agredindo verbalmente continuamente. Entretanto, o ponto máximo da história foi que, ao chegar neste corredor, os agentes me falaram que a minha cela estava além do portão ao final do corredor. Eles, no entanto, não estavam com a chave do portão. Logo, eu teria que atravessar sozinho o corredor, cheio de outros presos me xingando e ameaçando de morte, enquanto eles voltariam até a estação deles para buscar a chave.

Nesse momento, eu falei que não iria atravessar sozinho, que iria esperar eles voltarem. Tinha certeza absoluta que se eu tentasse atravessar sozinho aquele corredor os outros presos iriam me agredir e que não iriam parar até que eu estivesse morto. Os agentes simplesmente me falaram que eu não tinha escolha alguma, que caso eu não atravesse eles iriam me levar até o pátio (onde eu estava parado na frente, com cerca de 100 presos do outro lado da grade) e deixar que eles tirassem satisfação comigo.

Minha cabeça, neste momento, decidiu duas coisas. A primeira que era melhor arriscar 10 a 12 presos batendo em mim do que 100. Mais importante, tive a certeza absoluta de que eu iria morrer. Neste momento senti uma anestesia parecida com a que eu senti de manhã mas, ao contrária daquela que, para mim, é relacionada a depressão, esta anestesia que senti ao cruzar o corredor foi de desistência.

Eu desisti da minha vida naquele momento. Eu tinha certeza da minha morte. Eu simplesmente desliguei minha cabeça de alguma forma. Não sentia mais medo, nem ansiedade. Meu coração batia calmamente. Minha respiração era constante. Eu andei aqueles 20 metros de corredor totalmente calmo. Sabia que não iria chegar do outro lado, não vivo pelo menos. Esse era o fim. Não sei se alguém já esteve numa situação onde se teve a plena certeza de que você iria morrer. O momento que você tem a certeza em si é de uma serenidade incrível. Pelo menos para mim foi. O problema é o momento anterior e o momento posterior.

O anterior eu já expliquei, mas agora vem o posterior. Ao chegar ao fim do corredor, vivo obviamente, eu olhei para trás e vi os agentes dando risada. Logo em seguida eles vieram andando e chegaram até o portão. Eu não havia reparado, mas havia um outro agente do outro lado da grade (em um outro corredor) e ele era o cara que tinha a chave. Nenhum dos agentes que fica em contato direto com o preso tem o molho de chaves de nada importante (como das celas ou portão), porque pode ser que o preso consiga roubar essa chave. Um outro agente, que fica fora de contato com os presos, anda ao lado, mas separado por uma grade, e então entrega a chave para abrir o portão e posteriormente a cela. Esse agente que fica com a chave, fica nesse corredor marcado pelo quadrado vermelho:

 

Esse lugar era onde eu estava, o portão que separava essa ala de celas fica logo antes dessa cela. Esta foto foi quando isto foi inaugurado acredito eu. O lugar agora está bem mais sujo e existe um outro portão cerca de 6 celas para baixo nessa "rua".

Outro detalhe que eu não havia percebido. Todos os presos que estavam no corredor estavam algemados por uma mão em um corrimão preso na parede. Não existia como eles me alcançarem, desde que eu andasse o mais perto possível da grade do lado direito. Logo, eu não estava, em nenhum momento, sob nenhum risco de ser espancado e muito menos de morrer. Claro que estes detalhes eu somente percebi depois de tudo o que eu relatei para vocês. Imaginem então alguém que simplesmente desistiu de sua vida perceber que a mesma não estava em perigo.

Eu sentia ódio dos agentes por terem feito isso comigo, queria enfiar a mão na cara deles mesmo que eu fosse jogado na solitária. Eu sentia vontade de desabar e começar a chorar porque a pressão psicológica estava muito grande. Eu tenho a impressão que eu quase surtei definitivamente neste período. Acho que essa foi a grande chance na minha vida de finalmente perder a cabeça e ficar louco para sempre. Me pergunto ás vezes se não deixei essa oportunidade passar...