Hoje foi e tem sido um dia difícil....
Fui para a academia mas não sentia vontade de fazer nada, muito além da mera
preguiça que me acomete só de pensar em ir fazer exercícios. Pela manhã toda eu
sentia um senso de querer fazer nada, de me esconder de tudo e todos. Achar um
buraco no chão e me deitar lá (vejam, nada a ver com cometer suicídio em si,
somente a vontade de desaparecer) e deixar que o mundo continuasse o seu
caminho enquanto eu ficava para trás...
Já senti isso antes, quando minha irmã faleceu. Chegou em um ponto de
tristeza tão grande e de stress tão grande de cuidar dos meus pais (que
obviamente estavam muito abalados) em que o meu cérebro simplesmente desligou
as minhas emoções. Eu me senti anestesiado, indiferente a tudo que estava
acontecendo á minha volta e comigo. Não sentia vontade de me matar nesse
período, apesar de ter pensado nisso antes de acontecer essa anestesia geral,
mas também não sentia vontade de continuar a viver. Assim como hoje pela manhã,
sentia vontade de simplesmente deixar o mundo seguir o seu caminho enquanto eu
ficava para trás. Eu pensava que seria ótima achar um lugar remoto e isolado,
onde eu não precisasse interagir com ninguém ou com nada. Um lugar onde eu
pudesse simplesmente sentar e ficar quieto.
Esse mesmo sentimento me invadiu hoje de manhã e por mais cômico que pareça
foi um estranho completo que acabou me tirando desse estado. Estava fazendo
exercício ao lado dele, no elíptico, e ele começou a puxar papo comigo. Sou uma
pessoa bem introvertida e nunca faria isso por iniciativa própria então acho
muito estranho quando vejo alguém tomando essa atitude. Esse sentimento de
estranheza é ainda maior quando eu sou o foco dessa expansão extrovertida de
alguém.
Acabamos batendo papo sobre perder peso (ele também está na luta para
emagrecer) e como todo gordo existem certas histórias que somente tem graça se
você é (ou já foi) gordo. Ficamos batendo papo por uns 15 minutos e essa
conversa, totalmente aleatória, acabou melhorando meu espírito. Demos risada
sobre diversas situações em que você tende a se meter quando é obeso e sobre
vários outros assuntos relacionados.
Dai imagino que vocês pensem...se ele está melhor porque o título do post é
Medo?
Bem, o título é medo porque eu ia começar contando sobre como eu estava me
sentindo ao logar no blogger para escrever. Entretanto, me veio na cabeça essa
história sobre hoje de manhã e não consegui me conter de não compartilhar ela.
Engraçado, estava pensando agora.... sou uma pessoa introvertida por natureza,
conforme mencionei anteriormente, mas aqui estou eu escrevendo sobre como eu me
sinto para pessoas que nunca vi na vida. Inclusive, vi agora a pouco que
houveram acesso deste blog da Rússia. Vai entender o que um Russo/a estava
procurando para cair aqui....
A medida que fui contando a história sobre hoje de manhã fui me acalmando.
Com isso meu medo foi diminuindo até que, apesar de continuar sentindo esse
medo e ansiedade agora, o sentimento chegou em um nível controlável. A
pouco mais de 15 minutos atrás comecei a sentir um medo e ansiedade de uma
maneira que eu não sentia a muito tempo. Meu coração começou a bater mais
rápido e minha respiração começou a ficar mais trabalhosa e rápida. Senti minha
cabeça cada vez mais leve e comecei a sentir náuseas, como se fosse passar mal.
Tinha uma sensação de querer fugir de onde estava (meu quarto), de simplesmente
abrir a porta da rua da minha casa e sair correndo. Não sabia para onde eu
tinha que ir e nem o porque, mas eu queria sair de onde eu estava de uma
maneira desesperada. Um sentimento de que algo ruim estava para acontecer
iminentemente e que eu não sobreviveria se não fugisse imediatamente.
Por mais engraçado que seja, quando eu senti isso e loguei para postar sobre
isso essas sensações ficaram mais fortes ou talvez mais urgentes. Entretanto,
quando eu fui escrever, quando eu achei que o meu coração ia pular para fora do
meu peito ou que eu iria enfartar, eu lembrei dessa pessoa de hoje de manhã e
comecei a dar risada. Dar risada da situação (do introvertido sendo obrigado a
ser levemente extrovertido forçadamente) como um todo e como ela me fez
bem. Essa lembrança, e algumas risadas por lembrar disso, me fizeram
ficar mais calmo até que posso dizer que agora estou novamente tranquilo.
Tranquilo daquele jeito né? Nervoso? Sim! Ansioso? Sim! Com medo? Sim!
Gerenciáveis? Também sim!
Estava lembrando aqui também, a única outra vez em que eu senti esses
sintomas, e não com esse sentimento de querer fugir, foi quando eu fui
transferido para a segunda prisão que eu fiquei. Quando eu cheguei lá um dos
agentes me perguntou sobre o que eu tinha feito e eu, idiota e ingênuo,
respondi. Ele começou a me xingar imediatamente e começou a me dar ombradas.
Assim que eu sai do local onde era feito o cadastro e fui para onde eu iria
receber as roupas (laranjas, bem estilo seleção holandesa) ele contou para
todos os outros agentes e alguns dos outros presos que estavam por perto no
pátio (separados de onde eu estava por uma grade).
Todos essas pessoas começaram a me xingar, me ameaçar de morte e várias
outras coisas. As que tinham acesso a mim toda hora vinham me agredir
fisicamente de alguma forma (seja via ombradas, joelhadas nas pernas e alguns
tapas). Fiquei mais de 40 minutos de pé, olhando para essa grade que me
separava de alguns dos presos, enquanto eles ficavam do outro lado chutando a
grade e me xingando. Fiquei esses 40 minutos algemadas, sem poder me mexer
porque caso eu tentasse mudar o meu pé de apoio, algum agente vinha e me
agredia. Esses mesmos 40 minutos debaixo de um sol forte, sem poder levantar as
mãos até o meu rosto para me proteger. Este mesmo tempo sendo agredido
verbalmente, sofrendo uma pressão psicológica intensa.
Neste momento sentia os mesmos sintomas físicos que eu descrevi mais acima.
Interessante, entretanto, que não sentia a vontade de fugir. Talvez porque
soubesse que isso não era possível por mais que eu quisesse. Afinal, teria que
de algum modo passar por mais de 10 agentes, pular um portão enorme, fugir dos
cachorros de guarda (que são enormes), não levar nenhum tiro dos guardas nas
torres de vigia para só então chegar no estacionamento do presídio. Dali, teria
que andar uns 4 kilômetros via estrada de chão para chegar a uma rodovia de
onde poderia voltar para a cidade. Tudo isso algemado e pesando mais de 160 kg.
Totalmente inviável.
Estes sentimentos entretanto somente pararam quando eles finalmente me
levaram para a cela onde eu iria ficar. Para fazer isso era necessário passar
por um corredor onde ficava a enfermaria. Após este corredor havia um portão
fechado e o conjunto de celas onde eu iria ficar era após este portão. Neste
corredor haviam vários presos que estavam aguardando atendimento médico. Todos
eles haviam visto o que tinha acontecido comigo e ouvido qual era meu crime.
Até então, eles se limitavam a gritar xingamentos de longe, já que este
corredor ficava em torno de 40 metros longe. A chance deles de fazer algo a
mais somente se apresentou nessa hora.
Vejam, existe uma norma de que os agentes penitenciários são responsáveis
pela integridade física do preso e devem zelar por ela. Isso significaria
impedir que alguma pessoa me agredisse. No mínimo irônico, sendo que eles mesmo
estavam me agredindo verbalmente continuamente. Entretanto, o ponto máximo da
história foi que, ao chegar neste corredor, os agentes me falaram que a minha
cela estava além do portão ao final do corredor. Eles, no entanto, não estavam
com a chave do portão. Logo, eu teria que atravessar sozinho o corredor, cheio
de outros presos me xingando e ameaçando de morte, enquanto eles voltariam até
a estação deles para buscar a chave.
Nesse momento, eu falei que não iria atravessar sozinho, que iria esperar
eles voltarem. Tinha certeza absoluta que se eu tentasse atravessar sozinho
aquele corredor os outros presos iriam me agredir e que não iriam parar até que
eu estivesse morto. Os agentes simplesmente me falaram que eu não tinha escolha
alguma, que caso eu não atravesse eles iriam me levar até o pátio (onde eu
estava parado na frente, com cerca de 100 presos do outro lado da grade) e
deixar que eles tirassem satisfação comigo.
Minha cabeça, neste momento, decidiu duas coisas. A primeira que era melhor
arriscar 10 a 12 presos batendo em mim do que 100. Mais importante, tive a
certeza absoluta de que eu iria morrer. Neste momento senti uma anestesia
parecida com a que eu senti de manhã mas, ao contrária daquela que, para mim, é
relacionada a depressão, esta anestesia que senti ao cruzar o corredor foi de
desistência.
Eu desisti da minha vida naquele momento. Eu tinha certeza da minha morte.
Eu simplesmente desliguei minha cabeça de alguma forma. Não sentia mais medo,
nem ansiedade. Meu coração batia calmamente. Minha respiração era constante. Eu
andei aqueles 20 metros de corredor totalmente calmo. Sabia que não iria chegar
do outro lado, não vivo pelo menos. Esse era o fim. Não sei se alguém já esteve
numa situação onde se teve a plena certeza de que você iria morrer. O momento
que você tem a certeza em si é de uma serenidade incrível. Pelo menos para mim
foi. O problema é o momento anterior e o momento posterior.
O anterior eu já expliquei, mas agora vem o posterior. Ao chegar ao fim do
corredor, vivo obviamente, eu olhei para trás e vi os agentes dando risada.
Logo em seguida eles vieram andando e chegaram até o portão. Eu não havia
reparado, mas havia um outro agente do outro lado da grade (em um outro
corredor) e ele era o cara que tinha a chave. Nenhum dos agentes que fica em contato
direto com o preso tem o molho de chaves de nada importante (como das celas ou
portão), porque pode ser que o preso consiga roubar essa chave. Um outro
agente, que fica fora de contato com os presos, anda ao lado, mas separado por
uma grade, e então entrega a chave para abrir o portão e posteriormente a cela.
Esse agente que fica com a chave, fica nesse corredor marcado pelo quadrado
vermelho:
Esse lugar era onde eu estava, o portão que separava essa ala de celas fica
logo antes dessa cela. Esta foto foi quando isto foi inaugurado acredito eu. O
lugar agora está bem mais sujo e existe um outro portão cerca de 6 celas para
baixo nessa "rua".
Outro detalhe que eu não havia percebido. Todos os presos que estavam no
corredor estavam algemados por uma mão em um corrimão preso na parede. Não
existia como eles me alcançarem, desde que eu andasse o mais perto possível da
grade do lado direito. Logo, eu não estava, em nenhum momento, sob nenhum risco
de ser espancado e muito menos de morrer. Claro que estes detalhes eu somente
percebi depois de tudo o que eu relatei para vocês. Imaginem então alguém que
simplesmente desistiu de sua vida perceber que a mesma não estava em
perigo.
Eu sentia ódio dos agentes por terem feito isso comigo, queria enfiar a mão
na cara deles mesmo que eu fosse jogado na solitária. Eu sentia vontade de
desabar e começar a chorar porque a pressão psicológica estava muito grande. Eu
tenho a impressão que eu quase surtei definitivamente neste período. Acho que
essa foi a grande chance na minha vida de finalmente perder a cabeça e ficar
louco para sempre. Me pergunto ás vezes se não deixei essa oportunidade
passar...