sábado, 3 de outubro de 2015

Como folhas ao vento... estes são meus pensamentos


Estava lendo e relendo o último post, Auto Estima, e refletindo sobre o título em si. Não sobre a palavra em si, ou o seu conceito, mas no impacto que isso teve e tem na minha vida como um todo. Talvez este post seja um pouco vago demais, afinal irei tentar explicar questões minhas sem entrar nos detalhes das mesmas. Isto me parece levar a uma falta de clareza e objetividade do post e impacta um leitor que não possui todas as informações de contexto necessárias para poder analisar e entender o que vou dizer.

Peço desculpas a quem, por ventura, estiver lendo este post por isso. Espero que no futuro eu consiga me sentir confortável para entrar em maiores detalhes e, então, irei referenciar novamente este post de maneira que acredito que o mesmo ficará mais claro. Assim espero!



Na primeira sessão de terapia com a minha psicóloga, eu acabei por assustar ela com a natureza do meu problema e uma série de outras questões.

Primeiramente, que fique claro, eu havia recentemente ganho um habeas corpus e estava novamente em liberdade após um período de 2 meses na cadeia. Logo, havia dentro de mim uma série de sentimentos e medos reprimidos ao longo destes 2 meses os quais estavam me fazendo surtar. Basicamente, eu tinha uma sensação imediata de que a qualquer momento, não importando onde eu estivesse, apareceriam policiais para novamente me levar a prisão. Essa certeza de que a qualquer momento eu iria novamente preso era tão inabalável que todo dia eu acordava as 06:45 da manhã, tomava um banho, me trocava e ficava sentado em minha cama aguardando que a polícia chegasse. Isto é devido ao fato de que fui preso as 07:15 da manhã, logo imaginei que quando os policiais voltassem eles iriam novamente me prender neste horário.

Além disto, ao andar na rua eu constantemente olhava por cima dos meus ombros e para os lados. Eu tinha certeza que haviam policiais me seguindo e eles estavam somente esperando o melhor momento para me prender novamente. Ao sentar no sofá dentro do consultório da minha psicóloga eu passava mal de tanta ansiedade que eu sentia. Isto se deve pelo posicionamento do sofá que obriga quem senta nele ficar de costas para a porta. O fato de eu não poder enxergar a porta me incomodava de uma maneira absurda. Vejam, mesmo que fosse verdade que a polícia iria adentrar pela porta o fato de eu conseguir enxergar isto não mudaria o fato de ser preso ou não. Mesmo considerando esta lógica, que fazia sentido racionalmente para mim, eu ainda me sentia incomodado por não poder manter vigília na porta.

Fora este estado de nervos em que eu me encontrava eu acabei por ter uma diarreia mental e verbal e relatei, em torno de 1h20m  -- 20 minutos a mais do que eu deveria : ) Me desculpa psicóloga! --, todo o meu problema. Depois de várias sessões conversei com a psicóloga a respeito desta primeira sessão e em como, posteriormente relembrando da mesma, eu achava que eu a havia assustado e chocado. Acho que essa foi uma das sessões mais legais que tive, porque ela foi muito honesta e transparente no que ela disse. Basicamente, ela me disse que eu havia sido o primeiro paciente dela com este problema e que isso realmente a pegou de surpresa. Além disto, ela me contou que teve que refletir se ela estava a vontade com o meu problema para que ela pudesse me ajudar. Felizmente ela tomou a decisão de me ajudar e eu fico muito grato por isso!

Perto do final daquela primeira sessão (novamente peço desculpas pelos 20 minutos extras dos quais eu me "apropriei" indevidamente) chegamos numa questão de auto estima. Em como, no meu relato para ela, ela pensava que eu tinha uma auto estima muito baixa em relação a minha pessoa fisicamente. Admiti para ela que tinha problemas de auto estima ao pensar no meu corpo e que sempre considerei que o meu único atributo bom era minha inteligência; devido a isto tinha medo de tomar remédios que alterassem a minha química cerebral por ter medo de que os mesmos fossem interferir com a única coisa boa que eu tinha.

Este problema de auto estima em relação ao meu corpo, segundo ela, poderia acarretar no meu pronlema. Que isto era algo a ser analisado futuramente e que poderia ser trabalhado. Desde então não consigo me lembrar de nenhuma outra sessão onde tenha tocado nesse assunto. Tivemos inúmeras sessões onde tocamos no meu problema e o analisamos sob uma diversidade de outros aspectos mas nunca mais em relação a auto estima. Penso se isto não foi proposital de minha parte, mesmo que em um nível inconsciente, por me sentir incomodado com o assunto. Ao escrever no último post como minha auto estima teve uma melhora recentemente (ver Auto Estima para mais detalhes) é que voltei a pensar neste assunto.  Por fim, chegamos a intenção original deste post ( e só demoramos meia Bíblia de texto para chegar lá :-/ )

Esta questão de auto estima me parece não ser a razão principal do meu problema. Ao longo de várias sessões que eu tive com a psicóloga e com o psiquiatra também, foram levantados uma série de fatores que contribuem para o meu problema. Alguns destes fatores compõem teorias sobre como eu sou como eu sou. Entretanto, após entrar novamente nesta senda da auto estima, me parece que nenhuma destas teorias realmente explicam o início do meu problema. Não me parecem explicar o porque de eu ser como eu sou. Todavia, elas parecem me explicar o porque eu persisti neste caminho que me levou aonde eu estou hoje. Quero dizer com isto que estes fatores e teorias fazem sentido para mim como facilitadores e perpetuadores do meu comportamento errado e não como causadores do mesmo. Não sei se será possível um dia descobrir a origem do meu problema. Existem muito poucos estudos clínicos que estudam a minha condição, mesmo considerando fontes médicas fora do Brasil.

Logo, me parece que por um tempo irá perdurar o mistério de porque eu sou como sou. Entretanto, apesar de achar que seria muito importante e interessante descobrir o inicio do meu problema, me parece que é de maior importância aprender a lidar com o meu problema e seus impactos. Devido a isto, aprender os mecanismos que fazem com que o meu Eu queira sucumbir aos meu lado escuro e realizar atos ruins e aprender a gerenciar isto é o mais importante. Além disto, preciso aprender a construir novos padrões de funcionamento mentais que me permitam controlar a minha impulsividade. Esta impulsividade exagerada, e meu péssimo controle sobre ela, também contribuem diretamente para eu não controlar o meu Eu em determinados momentos e permitem que ele faça coisas ruins.

Em resumo, a minha auto estima me leva a procurar situações em que o meu físico não constitua um problema em relações inter pessoais. Em algumas das várias conversar com a minha psicóloga, ela percebeu de mim um receio em ser rejeitado. Isto advém também do fato de eu ser adotado. Meus pais me adotaram quando eu era um bebê de alguns dias, logo após eu nascer. Eu nunca conheci meus pais biológicos e nunca tive interesse em fazer isso. Além disso, nunca foi tabu na minha casa o fato de eu ser adotado. Essa questão sempre foi discutida á luz do dia.

Entretanto, ao que parece a minha psicóloga, eu tenho problemas com rejeição. Ela se baseou no meu padrão de reação sobre como certos amigos e família me negaram a sua convivência após eu ter sido preso e como, devido a isto, eu me sentia um pária (literalmente um merda, um bosta que não serve para nada). Aliado a isto também tem o fato de que eu descrevi meus sentimentos utilizando as palavras exatas de crianças com sentimentos de rejeição por terem sido abandonadas pelos seus pais. Amarrando isto com a minha adoção parece a ela, e após refletir muito a mim também, que eu realmente tenho uma dificuldade enorme em ser rejeitado. Que devido a acreditar que eu não valho a pena como pessoa eu tenha tacado um foda-se, a tudo e a todos, e cometido os atos que eu cometi. Afinal de contas, se eu sou uma pessoa ruim, que ninguém em tese deveria gostar, é normal que eu cometa atos ruins não? Deveria ser o esperado de uma pessoa ruim como eu cometer atos ruins.

Além disto eu tenho mania de controle, não gosto de estar em situações em que eu não tenha poder de decisão sobre o que vai acontecer comigo e a minha volta. Sempre tive na minha vida profissional um certo grau de controle (nem que fosse a ilusão de controle). Sempre tive planos para minha vida pessoal com planejamento para os próximos anos. Sempre acreditei em ser a pessoa mais inteligente da sala e devido a isto manipular os outros a minha volta para conseguir meus objetivos.

E esta mania de controle, aliado com a minha baixa auto estima, me levaram a cometer, duas vezes, um ato em que eu poderia me relacionar com alguém, contra sua vontade, onde a minha auto estima não importava e onde eu poderia manter o controle total sobre como a relação se desprenderia. Isto me parece claro, hoje, neste exato momento em que eu escrevo este texto. Sim, sou uma pessoa ruim pelo problema que eu tenho de atração. Entretanto, pareço ser uma pessoa pior pelo problema de desejo de executar esta minha atração de uma maneira extremamente violenta. Sou ainda pior do que isto por querer executar esse desejo de uma maneira covarde, que me permita manter controle total da situação. 


Estes dois fatores, estas duas características minhas, são, para mim, aliadas com a questão de impulsividade os meus maiores desafios hoje. Eu preciso mudar. Resistir a mudança nestes quesitos é uma sentença a longo prazo para que eu me perca na minha escuridão novamente. Lições duras às vezes são necessárias para que as pessoas aprendam determinadas coisas. Estou tendo as lições mais duras da minha vida nesse momento. Se irei fazer jus à minha arrogância de me achar inteligente então preciso aprender com estas lições. Não posso simplesmente ignorá-las. O caminho é duro, longo, sombrio, solitário em alguns pontos mas ele precisa ser percorrido. A vontade de mudar, a vontade de não cometer coisas ruins, a vontade de conquistar novamente o respeito, carinho e confiança das pessoas que eu amo, a vontade de não machucar mais ninguém inocente são imperativos. Eu irei tropeçar diversas vezes nestes caminho. Eu irei cair diversas nesse caminho. Eu irei me equilibrar novamente cada vez que eu tropeçar. Eu irei levantar cada vez que eu cair. Eu irei melhorar a cada passo. Eu irei chegar do outro lado. Eu acredito em mim. 

 Teoria de Rejeição - Post Scriptum


Originalmente não queria acreditar nessa teoria da rejeição. Para ser honesto não acreditava que ela estava correta. Entretanto após refletir muito sobre isso me parece que ela faz muito sentido. Me sinto mal por ser rejeitado pelos outros. Me sinto mal por não ser me dada uma chance para que eu possa fazer entender o meu problema aos outros. Isto me deixa muito mal internamente. Sinto raiva, tristeza, depressão, vontade de me matar ás vezes devido a isto. Ao longo destes meses em que eu tenho feito terapia no entanto tenho aprendido a lidar melhor com esses sentimentos. Passo por lutas diárias com o que eu sinto, mas posso dizer com felicidade que não sinto vontade de me matar a várias semanas.

Por mais que às vezes eu ache que a minha situação não tem jeito, que não existe luz no fim do túnel, eu tenho conseguido perseverar e me manter firme no meu caminho. Tenho esperanças agora de que eu consigo alterar meus padrões de funcionamento, afinal já dei provas práticas para mim mesmo de que eu mudei. Penso nas pessoas para quem eu cometi este mal e fico triste por ter-lhes machucado e ao mesmo tempo elas me inspiram pela sua maturidade, força e coragem em continuar. Penso nas poucas pessoas que estão me apoiando neste caminho, cada uma de sua maneira e cada maneira importante e imprescindível. Penso no esforço, coragem e maturidade que preciso ter para continuar. Penso que seria muito fácil optar por me retirar deste mundo e não ter que lidar com isto.

Entretanto, não enfrentar os seus problemas é contra tudo que eu sempre acreditei pessoalmente e profissionalmente. Sempre fui capaz de admitir meus erros e tentar consertá-los. Não é agora, em que o erro é enorme, que eu irei deixar de acreditar nisso. Talvez mais ainda agora seja a hora de pagar pelos meus erros, de alguma maneira e com alguma dignidade. Após este hiato que a minha vida terá, após eu quitar a minha dívida com a sociedade, eu posso, de alguma forma, tocar a minha vida. Até porque mesmo que a minha dívida legal com a sociedade esteja quitada, a minha dívida moral e pessoal com as pessoas que eu machuquei, com as pessoas que estão me ajudando e comigo mesmo não estarão quitadas. Talvez elas nunca possam ser pagas, mas o mínimo que eu posso fazer é tentar.



  

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