quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Ansiedade

Olá,

Hoje estamos a menos de uma semana da minha audiência, que será realizada na próxima terça-feira....

Não consigo expressar através de palavras a angústia e ansiedade que estou sentindo nestes últimos dias. Posso dizer, felizmente, que a intensidade de ambos estes sentimentos não se comparam com como estava antes da minha primeira audiência. Entretanto, ainda sim estou bem nervoso e agitado.

Tenho tentado, e até certo ponto conseguido, manter o controle destas emoções. Quando sinto que estou ficando ansioso demais paro e tento meditar um pouco. Fazer isto me ajuda a me acalmar e continuar o que eu estava fazendo anteriormente. Claro, nem sempre isto funciona mas na maioria das vezes dá certo. Também tenho aproveitado para passar tempo com os meus pais e com meus amigos. A sensação eminente de que eu irei retornar para a cadeia no dia 27 não me deixa. A probabilidade é na casa de 1% e mesmo assim este percentual parece significar mais que 100% na minha cabeça.

Percebo que há muito tempo que isto deixou de ser uma ansiedade, um medo e se tornou uma neurose, praticamente uma fobia. Pensar nisso me paralisa completamente, tenho dificuldade até para respirar algumas vezes. A lógica, algo que eu prezo tanto, me diz que isto é besteira, que eu não irei preso na audiência; mas minha cabeça não se convence disso e manda a lógica ir para a PQP.

Tem uma música do Foo Figthers que eu estava ouvindo esses dias que me fez pensar muito nesse assunto. O nome da música é Best Of You (O Melhor de Você), e no refrão tem a seguinte letra:

Is someone getting the best, the best, the best, the best of you?


Basicamente dizendo: Existe alguém tirando o melhor de você? 

A resposta, no meu caso, é que sim, existe uma pessoa que está tirando o melhor de mim. Uma pessoa que está impedindo eu de viver. Esta pessoa não é nada mais, nada menos, do que Eu mesmo! 
Este meu medo da audiência, do desconhecido que cerca esse evento, é natural. Ter ansiedade por algo que vai potencialmente mudar minha vida é normal, qualquer pessoa sente isso. Sentem isso quando estão para prestar o vestibular, quando estão para se formar na faculdade, quando estão procurando o primeiro emprego, quando se casam, quando tem filhos e etc. Todo evento significativo em nossas vidas causam ansiedade e apreensão. Isto é normal. 

Se deixar tomar por essa ansiedade, por esse medo, é prejudicial e gera um loop infinito de angústia. Seria o equivalente a não passar de primeira no vestibular e nunca mais conseguir ter a confiança para fazer a prova com calma. Seria o equivalente a bombar na primeira entrevista de emprego e considerar que você é um péssimo profissional e ficar com medo de fazer outra entrevista. Provações acontecem na vida de todo mundo, de um jeito ou de outro. 

Nunca imaginaria que uma das minhas maiores provações fosse ser preso, acusado de um crime com potencial de mandar para a cadeia por vários anos. Não era isto que eu queria para a minha vida, nunca esteve nos meus planos obviamente! Entretanto, a realidade é esta. Claro, devemos ter sonhos e expectativas sobre o que queremos mas também temos que ter maturidade para enfrentar o que temos na nossa frente no momento. Esta maturidade ainda é algo que eu não possuo, pelo menos não plenamente. 

Tenho lutado muito para, pouco a pouco, conseguir adquirir essa tranquilidade, essa maturidade. Essa capacidade de ficar frente à frente com o que está no meu caminho e tentar encarar isto da melhor maneira possível. Em parte, essa maturidade se mostra presente quando eu tomei a decisão de procurar ajuda, de manter um papo franco e honesto com a minha família e amigos, de emagrecer e cuidar da minha saúde indo na academia. Ela se mostra presente também nos meus pensamentos, quando encontro situações difíceis de rejeição, quando sinto vontade de cometer algo ruim mas racionalizo e me impeço de fazer algo.

Ao mesmo tempo, ela se mostra insuficiente como por exemplo nessa ansiedade exacerbada que eu estou sentindo. No desespero mental que tenta, de qualquer maneira possível, achar uma brecha que permita que eu não seja preso novamente. 

Cada dia é um dia novo. Ontem passou, coisas boas aconteceram e coisas ruins também. Hoje é um dia novo, onde eu tenho a chance de fazer coisas boas e encarar coisas ruins de uma boa maneira. Não vou ser perfeito sempre, e esse nem é o objetivo. Existirão dias em que todo irá por água baixo. Saber levar cada um desses dias da melhor maneira possível é o desafio. Cada passo dado é uma pequena vitória. Cada passo cedido é uma lição aprendida. Não desistir me parece ser a solução. Tirar minha vida, fugir daqui ou qualquer outra coisa como essa não é uma opção. Elas podem parecer noções agradáveis ás vezes, como o canto de uma sereia, mas estas opções, assim como o canto da sereia, trazem a ruína. 

É difícil. A cada passo parece que eu carrego toneladas nas minhas costas, peso suficiente para fazer o Atlas parecer uma criança. A cada contratempo a desilusão parece ser a única coisa que eu vejo e penso. Estou aqui entretanto. Ainda estou aqui. Estive aqui ontem e espero estar aqui amanhã. Estarei aqui quando eu estiver preso. Mesmo estando recolhido, suspenso do mundo normal onde as pessoas vivem, ainda existirei e ainda estarei lutando. Quando eu sair da prisão, daqui a alguns anos, ainda estarei vivo. Minha vida será totalmente diferente e isso me amedronta de uma maneira inexplicável. Espero que eu consiga me reerguer. Digo espero porque eu não sei o que o futuro me aguarda. Entretanto, eu sei o que eu aguardo do meu futuro. Eu aguardo ser capaz de encarar tudo isso e me tornar melhor. Eu espero poder olhar para trás, daqui a alguns anos, e poder dizer que tudo o que eu passei me tornou uma pessoa melhor. Eu espero estar vivo.

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