sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Post de Ontem Hoje - Parte 1


Deveria ter postado isto aqui ontem (dia 09/10) mas hoje acabei por me distrair pesquisando coisas de decoração e utensílios para casa na internet. A mais de dois anos atrás eu havia comprado um apartamento na planta que está para ser entregue neste mês. Interessante notar que teve somente 1 mês de atraso. Sei que qualquer atraso é difícil de ver, mas conheço (ou conhecia né? afinal estas pessoas não falam mais comigo) várias pessoas que tiveram a entrega dos seus imóveis atrasadas em mais de meio ano e, em alguns casos, em mais de 1 ano.

Sei que parece um início estranho de post, considerando como quase todos os outros posts começaram, mas relato isto porque faz parte de uma mudança no meu comportamento que estou tentando adotar. A mudança não é o consumismo em si (afinal de contas, agora sem emprego vivo do seguro-desemprego! Pelo menos uma vez na minha vida o PT está fazendo algo de bom para mim), A mudança consiste em ter mais esperança para o meu futuro.

Ultimamente não achava que eu iria acumular em nada de bom pelo resto da minha vida. Não estava contente comigo mesmo em termos de auto estima (por isso tão importante para mim foi o evento relatado no post Auto Estima). Também não estava confiante que eu poderia dar seguimento na minha vida neste preâmbulo da audiência, eventuais recursos e a condenação. Muito menos achava que após cumprir minha pena eu seria capaz de recomeçar minha vida, seja em outra cidade ou até mesmo em outro país.

Entendo que isso até certo ponto se configure como uma depressão. Eu realmente não tinha muitas esperanças de que minha vida iria melhorar algum dia. Eu estava indo para a academia para melhorar fisicamente a questão de peso, diabetes, pressão alta. Eu estava indo na psicóloga e no psiquiatra para me entender melhor e buscar ajuda e apoio na busca de melhorar o meu Eu. Entretanto, apesar de considerar ambas as coisas importantes eu estava indo com a maré. Fazia estas coisas mas poderia muito bem não fazer elas. Não por não acreditar que estas ações não trariam benefícios mas por uma falta de vontade de viver acredito eu. Este sentimento não era contínuo mas era persistente. Aliás, ainda é.

Pensei em cometer suicídio diversas vezes e inclusive planejei como executar isso. Meu lado racional é tão calculista que tenho 3 planos distintos para cometer suicídio. Continuo aqui entretanto, porque apesar de sentir essa desilusão, essa descrença no futuro, eu, em algum nível de consciência, sabia que tinha que continuar indo para a frente. Lentamente estou entendendo que eu não quero me matar, não sinto mais essa vontade de maneira tão urgente. Estou pouco a pouco adquirindo confiança em mim mesmo, confiança de que eu consigo atravessar este período da minha vida.

Não é fácil conseguir seguir em frente em momentos de dificuldade na vida. Passei por outras dificuldades na minha vida, assim como todas as pessoas passam. Infelizmente esta minha característica de internalizar meus sentimentos fez com que estes períodos fossem mais difíceis do que deveriam ser. Hoje, na consulta com a psicóloga, estavamos conversando sobre esta questão de controle que eu tenho. Ela comentou que eu sou muito 8 e 80 em relação a isso, que eu preciso ter o controle total da situação (ou pelo menos a ilusão disto) ou então eu me torno extremamente submisso. Isto vindo de diversas histórias que eu relatei para ela (histórias as quais eu não irei reproduzir aqui, me desculpem) sobre como eu me portei em diversas situações ao longo da minha vida.

Essa minha obsessão por controle me faz abraçar mais coisas do que eu deveria em determinados momentos e acabo não tendo uma relação de igual para igual com as outras pessoas. De uma maneira geral me fez aguentar mais carga emocional do que eu deveria. Ao invés de compartilhar isto com as pessoas que estavam na mesma situação eu tendo a assumir um papel de "protetor", de alguém que esta controlando as outras pessoas, e acabo trazendo para os meus ombros os sentimentos dos outros. De uma certa maneira faço isto para ajudar as outras pessoas a se sentirem melhor. Como nunca fui uma pessoa de se abrir sobre si eu sempre fui um bom ouvinte dos problemas alheios. Isto é algo bom e positivo mas a partir do momento em que eu somente aceito a carga dos outros e não compartilho a minha a pressão maior fica comigo. Este comportamento individualista e arrogante (no sentido de que eu achava que seria capaz de lidar com tudo sozinho) me faz guardar mais e mais coisas dentro de mim.

A cerca de dois anos atrás, tive um outro problema pessoal muito grande. Na verdade, um problema da família como um todo. Este evento foi a coisa mais marcante que aconteceu na minha vida até hoje. Dificilmente se passa um dia que eu não pense nisso. Quando isto aconteceu, meus pais ficaram arrasados. Eu cheguei em um ponto a ter medo que eles fizessem a besteira de cometer suicídio. Toda essa tristeza, angústia, raiva e uma série de outras coisas que eles sentiam eram compartilhadas comigo. Eu era a base de apoio deles. Diversas vezes eu chegava em casa do trabalho e encontrava ambos chorando. Eles choravam em meu ombro por mais de hora e quando um parava o outro começava. Eu fui aguentando isto, dia após dia. Entretanto eu não compartilhava com eles a dor que eu sentia, uma dor semelhante a deles. O fluxo de sentimentos e emoções era deles para mim. Eu fiquei quieto e, estoicamente, fui aguentando a pressão.

Cheguei em um ponto em que comecei a sentir raiva dos meus pais porque somente eles despejavam a sua carga em mim. Não queria mais chegar em casa para ouvir os choros deles e nem queria confortá-los. Ao mesmo tempo, sentia culpa por sentir essa raiva deles. Entendo hoje que o erro foi meu. Eu deveria ter conseguido me abrir com alguém. Poderia não ser com eles, mas poderia ter sido com os meus amigos e outros parentes.

Até que em determinado ponto meu cérebro simplesmente estressou além do seu limite. Eu entrei em uma depressão severa, não sentia vontade de fazer nada. Levantava da cama de manhã para me arrumar para o trabalho mas não sentia vontade de ir trabalhar. Também não sentia vontade de ficar dormindo. Simplesmente não queria fazer nada. Se pudesse cavar um buraco no chão e me esconder dentro dele eu faria. Deixaria o mundo seguir seu caminho e me removeria dele.

O engraçado é que, lembrando desse período, eu queria cometer suicídio mas ao mesmo tempo não queria. Eu não queria mais viver a minha vida, queria que tudo parasse. Uma das formas que eu imaginei que poderiam me ajudar nisso era o suicídio e mesmo assim até esse ato eu não sentia vontade de fazer. Atravessava os dias no trabalho mecanicamente. Eu era algo similar um robô de carne e osso. Fazia minhas tarefas, voltava para casa no fim do dia mais por que este era a rotina do que por outra coisa.

 Isto também está relacionado ao que eu fiz, assim como expliquei um pouco no Como folhas ao vento . Cheguei em um estado de anestesia tão completo que acredito que, quando a oportunidade se apresentou de liberar um desejo reprimido, eu simplesmente explodi. Tudo que eu guardava dentro de mim (a tristeza, a raiva, o rancor, os meus ímpetos) acabaram sendo manifestados de uma maneira violenta.

Comentei hoje com a psicóloga que eu penso nisso como se eu fosse uma represa. Eu construí uma represa interna e guardei tudo o que eu sentia atrás dela. Ela lentamente foi enchendo, até o momento que ela começou a transbordar. Se eu tivesse procurado ajuda mais cedo talvez eu poderia ter aprendido mecanismos para esvaziar essa represa de uma maneira controlada. Infelizmente não procurei essa ajuda. A represa simplesmente estourou um dia. Uma pessoa inocente, que não tinha nada a ver com a minha história, foi machucada por mim nessa explosão. Não busco dar desculpas pelo o que eu fiz, sei que estou errado. Simplesmente estou querendo dizer que uma sucessão de erros meus, provenientes da minha imaturidade de maneira geral, trouxe consequências terríveis.




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