quarta-feira, 28 de outubro de 2015

E o mundo continua girando...

Oi,

Estou aqui ainda! Coisa para se comemorar mas foi por pouco que retorno para a cadeia na própria audiência de instrução. Felizmente as coisas correram quase que inteiramente dentro do planejado. Me declarei culpado assim como estava planejado. De uma maneira geral esperava um interrogatório mais pesado por parte da promotoria mas quem fez a maioria das perguntas pesadas foi o próprio juiz.

Ao final da audiência, quando todos estavam se preparando para ir embora (o juiz já estava na porta com metade do corpo para fora) a promotora pública declarou que gostaria de solicitar a minha prisão preventiva novamente. Que no meu depoimento eu declarei que sou um risco à sociedade em decorrência da minha doença e de que eu deveria ser trancafiado. Neste momento eu quase desmaiei. Até o juiz voltou para a sala de audiência com uma cara de "O que?"... Ele então pediu que ela fizesse o requerimento e anexasse ao processo que ele iria considerar após receber a defesa por escrita dos meus advogados. A promotora se recusou e disse que gostaria de fazer a defesa oralmente de maneira que, caso o pedido dela fosse acatado, eu fosse preso imediatamente.

Felizmente meus advogados, após argumentar que uma pessoa não pode ser presa simplesmente devido à probabilidade de ela cometer um crime, conseguiram evitar a minha prisão. Entretanto o juiz decretou que eu utilize uma tornozeleira eletrônica por 90 dias. Não posso sair de casa após das 23h da noite e nem antes das 06h da manhã durante a semana. Nos finais de semana não posso sair de casa de maneira nenhuma.

Enquanto isto era decidido pelo juiz, e os dois lados argumentavam um contra o outro, eu simplesmente fiquei com a cabeça baixa, ambas as mãos em cima da mesa, e tremia descontroladamente. Não consigo me lembrar da maior parte do que foi dito na sessão. Realmente achei que iria novamente retornar para a cadeia e que haveria uma nova rodada de pedido de habeas corpus que poderiam demorar novamente 2 meses para serem julgados. Acho interessante quando vejo na televisão alguns presos conseguindo habeas corpus dentro de uma semana após serem presos. Isso me demonstra claramente que quando se tem dinheiro e influência se consegue tudo neste país.

De início fiquei extremamente aliviado por não ter sido preso. Após isto fiquei muito incomodado por ter que utilizar esta tornozeleira e ter que seguir uma série de regras para garantir que eu não vá novamente para a prisão (não arrebentar o lacre, manter sempre carregado a bateria, cuidar dos horários). Entretanto, após pensar sobre tudo isso, vi que existem algumas vantagens até para a minha segurança. Fiquei imaginando se acontecesse algo com a vítima, ou com a família dela, e que isto resultasse em um outro processo no meu nome. Digo isto porque eu seria uma pessoa com um motivo, vingança ou retaliação, muito forte e obviamente seria considerado um suspeito. Com esta tornozeleira se isto acontecer posso provar cabalmente que não estava nem perto do local do acontecido.

Outra coisa que a minha psicóloga falou hoje é que caso aconteça um crime parecido com o que eu cometi, posso usar esta mesma defesa para demonstrar que não tive nada a ver com o acontecido. De uma maneira geral a tornozeleira traz uma certa segurança para mim. Não somente para mim mas para outras pessoas que poderiam, hipoteticamente, serem potenciais vitimas. Caso eu, hipoteticamente, reincida no crime eu seria facilmente identificado e dai sim preso justamente poupado outras pessoas de serem vitimas.

Concordo 100% com a psicóloga, mas ainda disse a ela que me sentia incomodado de usar a tornozeleira mas não pela tornozeleira em si. Ficava incomodado porque percebo que houve uma má fé por parte da promotora em querer me enviar para a prisão. Entendo o argumento dela de que com a minha doença existe um risco inerente, mas isto não justifica uma prisão. Se ela tivesse pedido a tornozeleira ou uma prisão domiciliar eu ficaria tranquilo. Ter pedido a prisão com a justificava que pessoas como eu devem ser removidas da sociedade é um argumento crasso e estúpido. Se este fosse o caso então deveria eu abandonar o meu tratamento? Já que segundo ela minha condição é incurável e de alto risco para a sociedade de maneira geral? Deveria eu então ser preso para o resto da minha vida, coisa que a constituição não prevê? E quando acabar minha pena e eu ser solto na sociedade novamente? Como ficará dai?

Vejam, entendo que existe um risco inerente a minha doença que me faça a ter um impulso de difícil controle e que me leve a fazer algo ruim. Por isto mesmo que eu acredito que no meu caso eu devo continuar tendo acesos ao tratamento psiquiátrico e psicológico continuo, mesmo na cadeia. Interromper este tratamento é um risco potencialmente maior que me deixar solto. Repito, a tornozeleira neste caso é uma segurança mútua para ambos os lados e não me incomodo de usar ela.

O que me incomoda é alguém que, em tese, deveria ter vivência e experiência convivendo com atos iguais ao que eu cometi demonstrar uma ignorância absurda em relação à minha condição. Buscar a saída mais simples sem analisar o contexto é digno de alguém que não tem a mínima capacidade de consideração.

Entretanto, por mais que eu fique indignado com isto tudo o passado é o passado e a única coisa que podemos fazer é viver o presente e mudar o futuro, desde que isto seja nossa objetivo. O meu objetivo é mudar meu futuro, da melhor maneira possível. Se isto significa acompanhamento psicológico e tratamento com médicos receitados pelo psiquiatra então que assim seja.

Se eu estiver disposto a mudar e me esforçar para isto de maneira que eu consiga identificar os padrões que me levem a cometer o mesmo erro e evitá-los então eu terei realmente atingido o meu maior objetivo. Este é o meu sonho.

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